quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Obituário 2020 (parte II)

Sean Connery (1930-2020)

https://www.vanityfair.com/hollywood/2020/10/sean-connery-dies

Deve dizer-se o seguinte: Sean Connery será lembrado por muitas razões, mas a menor delas será a de ter feito os filmes do James Bond.

 

Cruzeiro Seixas (1920-2020)

Foto de Nelson Garrido/Jornal Público

 

Gonçalo Ribeiro Teles (1922-2020)

Desenho de GRT, via TimeOut
 

Diego Maradona (1960-2020)

A morte de Maradona fez-me recordar o período em que seguia mais ou menos de perto o futebol das ligas europeias e os mundiais. Aqui no Meios de Produção o futebol não é apreciado tanto como um desporto, mas como fenómeno de alienação de massas, que tem a particularidade de unir um povo em torno de uma equipa de jovens milionários com poucas habilitações, mas com enormes egos. O futebol revela-se como uma válvula de escape à contestação contra os políticos, carestia de vida e desigualdades, unindo adeptos, sobretudo em torno das seleções nacionais, em apoio a um objetivo comumente aceite, que é a vitória sobre o adversário (normalmente um adversário que representa um país mais rico) e a conquista de um troféu, que não tem outra importância que não seja um imaginado prestígio nacional e internacional. Por exemplo, na Europa, uma união de países ricos, a Seleção Portuguesa de Futebol, é uma equipa temida que figura entre as cinco primeiras nos rankings das melhores seleções… Mas Portugal é um país pobre, se comparado com a vizinha Espanha ou com os países que lideram a União Europeia, França e Alemanha. A vitória das equipas portuguesas e/ou da seleção sobre as suas congéneres europeias é sempre celebrada como uma vitória dos ricos contra os pobres, dos menos desenvolvidos contra os desenvolvidos. 

 

Quando Portugal concorreu à organização do Campeonato da Europa de Futebol, em 2004, a FIFA “impôs” (assim nos foi dito) a construção de dez novos estádios de futebol, desígnio que os portugueses acordaram sem discussão, desviando dinheiro do erário público, que devia ter sido aplicado em infraestruturas, construção de hospitais e escolas. A maior parte dos novos estádios foram usados uma vez e depois ficaram sem futebol, sem equipas e sem público. E os maiores estádios foram entregues aos melhores clubes a preço de saldo… O que ganhámos com isso? Anos depois vi os brasileiros fazerem exatamente a mesma coisa, desviar dinheiro público para a construção de estádios de futebol!

 

A morte de Maradona fez-me lembrar tudo isso, a desigualdade vista por um outro prisma, a incompetência, a ausência de debate, a incompreensão e a estupidez. E, no entanto… há coisas maravilhosas no futebol…

 

Nunca fui um adepto de Maradona. As primeiras coisas que vi dele foram simplesmente violência: o incrível jogo da final da Taça do Rei em Espanha, em 1984, em que o argentino pontapeou futebolistas e técnicos como nunca se vira na televisão em direto (nunca percebera bem aquela explosão de violência, até ver alguns documentários sobre a sua vida). Depois foi a “mão de Deus” num jogo do Mundial do México de 1986, contra a Inglaterra, e logo a seguir uma jogada individual em que deixa para trás seis adversários e marca golo. Depois, a vitória da Argentina contra a Itália, no Mundial de 1990, em Nápoles, a cidade onde jogava e era venerado, o que o levou à final. E nesse mesmo jogo da final, o céu e o inferno: primeiro, o hino argentino assobiado do princípio ao fim com Maradona a chamar alto e bom som, para que todos percebessem, “hijos de puta”; depois um jogo miserável para ambos os lados e um árbitro parcial a marcar um penalti inexistente contra a Argentina, resolvendo uma final que deveria ter ido a penaltis. Se não altura não gostava de Maradona, algumas das suas lágrimas também foram minhas.

 

E depois tudo o resto, o vício, as suspensões, o final de carreira, os desvarios, a obesidade, mais lágrimas, e os documentários… Maradona, um herói picaresco. Um talentoso que não passou o teste da fama; um imenso futebolista que veio da sarjeta e para ela voltou; ascensão e queda de um mito do futebol… E por aí fora.

Se gasto tantas palavras para falar de uma figura mais ou menos desprezível, mas também meritória, é porque Diego Armando Maradona é um exemplo daquilo que a humanidade produz constantemente: seres talentosos que são justamente venerados para logo a seguir serem esmagados.

 

Recomendo estes três documentários para se perceber melhor o mito (por ordem de importância decrescente). Lembro que todos eles foram realizados com Maradona vivo:

 

Maradona by Kusturica (2008), de Emir Kusturica – Às vezes parece uma competição de egos, ou uma luta entre a superioridade moral, cultural, intelectual. de um contra o outro. Mas também não é nada disso, é um belíssimo filme de um realizador de cinema que sabe o que é que está a fazer, ainda que também se esteja a autopromover. Vale bem a pena e gosto especialmente do momento com Manu Chao, excerto que mostro em cima.

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=iHOc0Hs3dYg

 

Diego Maradona (2019), de Asif Kapadia – O filme mais importante para se compreender Maradona, focado nos seis anos que passou em Nápoles. Para compreensão do mito e como se autodestruiu. Até ao momento, o filme mais recente. Certamente muitos outros se seguirão. A voz de Maradona passa por todo o filme, mas o que vemos são apenas imagens de arquivo, a maior parte delas em vídeo VHS.

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Pmm7r4ynyIQ

 

Maradona, Un gamin en or (2007), de Jean-Christophe Rosé – Segue a vida do jogador de futebol, desde o Boca Juniores até ao Nápoles, passando pelo Barcelona e pela fratura do tornozelo (o que explica a violência da final da Taça do Rei). Algumas destas imagens são usadas também no filme de Kapadia. Produção do canal Arte.

Filme: https://www.arte.tv/fr/videos/034047-000-A/maradona-un-gamin-en-or/

 

Eduardo Lourenço (1923-2020)

http://www.eduardolourenco.com/index.html
 

Harold Budd (1936-2020)

Foto de Masao Nakagami, via wikipedia
 

John Le Carré (1931-2020)

Foto de David Montgomery/Getty/HarperCollins (1985), via Newsweek

Kim Ki-duk (1960-2020)

Fotograma de Spring, Summer, Fall and Winter... And Spring (2003)

Kim Ki-duk é um estupor! Mas será mesmo? Os seus filmes mostram cenas brutais de humilhação feminina e maus tratos a animais. Chegou a ser processado por várias mulheres que o acusaram de abusos sexuais. Mas os seus filmes também são de uma beleza rara, como Primavera, Verão, Outono, Inverno… E Primavera (2003), Breath (2007), ou mesmo The Bow (2005), onde o cenário é um barco a navegar. A realização de uma retrospetiva completa da sua obra que, decerto, alguém estará a pensar fazer, seria um festival de violência, humilhação, submissão, choque e provocação. Mas também de emancipação, crescimento e estética rara. Vi vários filmes dele, infelizmente nenhum em cinema. Penso que os únicos que estrearam em Portugal, fora dos festivais, foram aqueles três mencionados. Houve um outro realizador sul coreano de nome Kim Ki-duk, nascido em 1934, que realizou mais de 60 filmes (!). Mas dele ninguém se lembra.

 

Eddie Gale (1941-2020)

[Actualização 06/03/2021; via https://eddiegale.com/]

 

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A propósito de «Tenet» ou a insustentável leveza do cinema de Christopher Nolan

Neil (Pattinson) e o Protagonista (Washington) preparam o próximo golpe, WB
Christopher Nolan (1970) é o herdeiro inglês do cinema americano de Alfred Hitchcock: os seus filmes são empolgantes, fazem uso da mais avançada tecnologia da época (embora isso são seja inteiramente verdade para AH), piscam o olho ao espectador enquanto o lançam na busca do McGuffin, enganam-no em inúmeros twists e, sobretudo, têm muito pouco para contar. Tanto em Nolan, como em Hitchcock, o cinema é entretenimento puro e duro. E pouco mais.

Chegado recentemente às salas de cinema, em período de pandemia global, causa de inúmeros adiamentos em lançamentos, produções e rodagens, eis a ponta de lança de Hollywood, Tenet, de Christopher Nolan. Há muito pouco para dizer sobre o filme, mas vamos relacioná-lo com a obra completa do inglês.

O mestre do McGuffin, ATF/AFP - Getty Images via NYT
«Tenet» é uma palavra que não quer dizer nada, mas serve o propósito do filme; é uma capicua – pode ser lida de trás para frente e vice-versa, pode ser lida da mesma forma nos dois sentidos. É uma palavra sem significado, relacionada apenas com o McGuffin do filme, realidades paralelas; a nossa realidade, que decorre do presente para o futuro e a do filme, que decorre do presente para um passado alternativo e daí para um futuro alternativo. Confuso? Não interessa! Enquanto tenta compreender alguma lógica nesta premissa, vão desfilando pelo ecrã algumas explosões, muitas lutas e tiros, perseguições de carros e mais qualquer coisa de extraordinário que prende a sua atenção. Não vale a pena tentar compreender a lógica das realidades paralelas propostas, são apenas o motivo para toda a parafernália que pretende despertar os nossos sentidos. E Nolan simplifica. O protagonista (John David Washington) – e a palavra aqui não é gratuita – tem apenas uma missão que todos nós conseguimos compreender facilmente: pretende salvar o mundo! E para isso tem de eliminar o mau da fita (Kenneth Branagh), contando com a ajuda do parceiro (Robert Pattinson), devolvendo a serenidade e o filho à mulher do bandido (Elizabeth Debicki).

O James Bond negro com a mulher do bandido, WB
O plot do filme é, em tudo, idêntico aos filmes de James Bond. Estamos, portanto, a ver um filme do agente secreto 007, mas sem o famoso agente secreto. O protagonista é um negro, bem vestido e de boas maneiras, o que causa ciúme entre os brancos ricos, que veem as suas mulheres em perigo. É uma subversão à temática de Ian Fleming. Há também um paralelo com Conan Doyle, já que o protagonista conta com um ajudante a toda a prova, uma espécie de Watson que apoia e salva o agente secreto. Também a mulher-atriz surge num papel que é um remake de uma série de televisão em que Debicki se tornou famosa na Grã-Bretanha, The Night Manager (O Porteiro da Noite, 2016), uma adaptação do romance homónimo de John Le Carré. Tudo piscadelas de olho. 

https://en.wikipedia.org/w/index.php?curid=4762204

De resto é o normal dos blockbusters de Hollywood, um turbilhão de product placement, muitos Mercedes, BMW e Audi, muitas roupas de marca e relógios, etc. 


Tenet não difere muito da magna primeira obra de Nolan, Memento (2000), um filme contado de trás para frente, sugerindo que podemos ver o filme do final para o princípio e obter uma história linear. Em Tenet este conceito é de novo explorado, mas de forma mais subtil, porque no mesmo plano os protagonistas seguem uma ação linear e cruzam-se com os seus duplos, que seguem uma ação paralela, inversa, que ocorre no passado e vai influir o presente e o futuro. Confuso novamente? Não interessa, não há tempo para pensar nisso; deixemo-nos levar pela ação…

Christopher Nolan em rodagem em Bombaim (Mumbai), WB
Além de Memento, Tenet é uma síntese das obras anteriores de Nolan, a saber, a trilogia Batman [Batman Begins (2005),The Dark Night (2008) e The Dark Night Rises (2012)] – os bons contra os maus, ação constante e delirante sempre com muito glamour, sequestro de grupos, assaltos, batalhas urbanas ou campais, antagonistas ignóbeis e as inevitáveis perseguições de carros – Inception (2010) – realidades paralelas construídas para deleite do espectador, com muita ação e violência pelo meio e a salvação do mundo; e Interstellar (2014) – distorção do espaço tempo… E a salvação do mundo.

A rever, numa qualquer tarde de um domingo chuvoso...
O que resta de Tenet?... Entretenimento puro, para ver num ecrã de TELEVISÃO, num domingo chuvoso, respaldado num sofá confortável, com umas pantufas quentes. Com o comando na mão para voltar atrás na ação e tentar desvendar alguma lógica naquilo que desfila perante os nossos sentidos. E pensar em rever Dunkirk (2018) e Insomnia (2002).

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A República portuguesa faz 110 anos! Viva a República!

 
Edvard Munch, 1893, O grito, National Gallery of Norway, via wikipedia
Uma vez convivi com um rapaz esquizofrénico, recém diagnosticado. Disse-me que gostava de viver em monarquia, mostrando um saudosismo do tempo dos reis, das rainhas e dos príncipes numa quase alucinação só comparável aos contos de fadas. Disse-lhe logo que isso não fazia qualquer sentido, que ele tinha uma ideia errada da monarquia, e que se vivêssemos em monarquia, tudo faria para que ela acabasse, seria até candidato a matar o rei. Olhou para mim com um medo terrível nos olhos, algo que nunca tinha presenciado. Mudei de assunto, depois despedimo-nos. Nunca mais o vi. Talvez o tenha visto, talvez dos tenhamos cumprimentado, mas nunca mais conversámos.

 
Chegada a Lisboa de Maria Ana de Áustria, em 1708, gravura alemã, via wikipedia
 Seria incapaz de matar alguém. Mas não suportaria que vivêssemos em monarquia. Não há nada de especial nisso. Nunca vivi em monarquia, mas conheço um pouco da história de Portugal para não desejar viver em monarquia. Podia-se dizer que a monarquia se vai modernizando, que os seus agentes também, que hoje até seria uma boa solução para o país, mais económica. Mas isso não me serve. Sejamos todos egoístas: se fosse eu o rei ou o príncipe, não me importaria que vivêssemos em monarquia.

 
Busto da República, barro, não assinada, coleção particular
 A República em Portugal e no resto do mundo tem uma coisa que a monarquia nunca terá: qualquer um, dentro das regras, pode ser o presidente. Eu posso ser o presidente, o meu filho(a), o meu neto(a) podem ser presidentes da República. Mas nunca seriamos reis ou rainhas. Esta realidade, por mais distante que nos pareça, está sempre muito mais próxima de nós do que alguma vez a minha família vier a ter linhagem real. Continuo a considerar actuais os princípios da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Estes princípios nunca serão alcançados em monarquia.

José Relvas proclama a República, em 1910, perante um país indiferente e analfabeto. Joshua Benoliel, via wikipedia
A nossa República nunca foi perfeita, nem nunca será. Começou por ser um movimento urbano das elites liberais, num país onde só havia duas grandes cidades, Lisboa e Porto, e onde a maioria da população, que era analfabeta, vivia no campo, trabalhando na agricultura, cultivando pequenas propriedades, no Norte, em regime de autossubsistência, ou trabalhando para nobres e burgueses latifundiários, no Sul. A implantação da República foi um movimento inorgânico e em contra-ciclo com os países europeus. Só a Suíça e a França (e talvez mais algum Estado de que me não consigo lembrar) eram democracias parlamentares. 

O ditador a discursar na Assembleia Nacional, sobre a adesão à NATO, em 1940. via DN
A República, por ser um movimento de elites, nunca alcançou a simpatia desse povo analfabeto, até porque as restrições ao universo dos votantes deixavam de fora uma larga maioria de homens (que eram os únicos que podiam votar). Apesar da tentativa de alargamento do ensino e do combate ao analfabetismo. E depois veio a ditadura! Um regime autocrático, iliberal, antidemocrata e anticomunista que transfigurou as instituições republicanas: o Presidente da República, apesar da constituição lhe outorgar o poder deliberativo, era um fantoche indicado pelo Presidente do Conselho (equivalente ao primeiro-ministro); o Parlamento era uma câmara das elites da ditadura, constituída por um partido único, a Acção Nacional; e a Câmara Corporativa, equivalente ao senado, era um órgão consultivo onde tinham assento os representantes das corporações económicas. Na ditadura, o Povo não estava representado, o seu papel resumia-se à obediência cega aos ditames das elites machistas reacionárias, um papel de subalternidade que alimentava o contingente emigratório, desde a década de 1950, e a máquina de guerra, desde a década seguinte.

Medalha comemorativa das 1.ª eleições presidenciais livres; por Baltazar, numerada, coleção particular
A Revolução Democrática de Abril de 1974 trouxe o voto universal a partir dos 18 anos (as mulheres nunca votaram, com algumas exceções autorizadas, durante a ditadura) e a representação popular através dos partidos políticos. Desde então os portugueses têm, com maior ou menor empenho individual, aperfeiçoado o sistema político. Mas com a entrada na União Europeia, no final da década de 1980, e com a adesão à moeda única, na década seguinte, perderam soberania em questões tão importantes como o orçamento de Estado, por exemplo. É uma nova etapa nesta evolução republicana, e que nos oferece maiores desafios ou rejeições… Mas continua a ser melhor que qualquer monarquia ou governo despótico. A República portuguesa faz 110 anos! Viva a República!

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Obituário 2020 (parte I)

Há uma hipótese absurda (ou nem tanto), por andarmos a homenagear os mortos que de alguma forma contribuíram para a formação do Meios de Produção: a de chegar a um ponto em que eles morrem todos e depois já não haver ninguém para homenagear… Esta hipótese só não é assim tão absurda porque quem é vivo está sempre a aprender, a conhecer coisas novas e, por isso, haverá sempre modelos a destacar no futuro. Na minha terra dizia-se que só não aprende quem é “burro velho” (apesar do animal não ter culpa nenhuma).

 
Pois então voltamos a mais um conjunto de homenagens aos falecidos neste terrível ano de 2020, o ano da pandemia, o ano do vírus SARS-CoV-2, o ano do aumento da mortalidade mundial. É um exercício mais ou menos fútil, que gostamos de fazer porque, por causa disto ou daquilo, gostamos da vida dos mortos. Memória, homenagem, lembrança, influência, exemplo, esperança… Tudo isso e muito mais. Lembra-nos que somos mortais e que a vida é um acaso. Falar da morte é falar da vida.

 

John Baldessari 1933-2020

 

Conheci a obra de John Baldessari no final da década de 1990, no Porto, não me lembro bem onde, talvez na Galeria Pedro Oliveira... Ou em Serralves. Seja como for, vale bem a pena conhecer e viver as suas obras. Esta curta metragem, A brief history of John Baldessari, narrada por Tom Waits, é uma excelente introdução à personalidade e trabalho de Baldessari. Courtesy of John Baldessari Estate.

 

George Steiner 1929-2020

via Jornal Tornado, não assinada

 Kirk Douglas 1916-2020

foto de promoção (film still), cerca de 1955

McCoy Tyner 1938-2020

https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=503071

Max von Sydow 1929-2020

Em O sétimo Selo (1957), de Ingmar Bergman

Pedro Barroso 1950-2020

via facebook Pedro Barroso

Manu Dibango 1933-2020

Agence France Press/Getty Images via NYT

Mécia de Sena 1920-2020

Mécia por Fernando Lemos, Fundação Calouste Gulbenkian

Mécia representa o amor incondicional. Ou a prisão. A sua dedicação ao marido, Jorge de Sena, é incansável, por vezes a roçar o insuportável. Mas admirável. Não foi certamente por causa de Mécia que a obra de Sena não foi esquecida, mas o seu contributo é assinalável, embora possa vir a ser um obstáculo para biógrafos e historiadores da literatura, porque a organização (e publicação até à data) da obra de Jorge de Sena é um trabalho exclusivo de Mécia. A sua morte não passou despercebida em Portugal, nem no meio literário, mas o labor na proteção da imagem do marido foi certamente uma motivação forte para muitos se esquecerem dela.


 Krzysztof Penderecky 1933-2020

https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4350632

Bill Withers 1938-2020

Gilles Petard/Redferns/Getty Images

Noronha da Costa 1942-2020

Objecto 67, via wikipedia

Lee Konitz 1927-2020

Konitz, entre Miles Davis e Gerry Mulligan, 1949; NYT: Popsie Randolph/Michael Ochs Archives, via Getty Images

Filipe Duarte 1973-2020

via Comunidade Cultura e Arte

Tony Allen 1940-2020


Little Richard 1932-2020

Richard com os Beatles, via thebeatles.com

Michel Piccoli 1925-2020

Piccoli em La Belle Noiseuse (1991), de Jacques Rivette, com Emanuelle Béart

José Cutileiro 1934-2020

via Rádio Campanário, via Observador

Habituei-me a seguir José Cutileiro no papel de analista de política internacional, sobretudo na rádio. Uma visão muito desempoeirada e até bem longe dos seguidistas e americanistas da nossa praça. Mais tarde, acabei por habituar-me a ler os obituários que escrevia há décadas no semanário Expresso, naquele estilo de colagem de orações e complementos quase até à exaustão. Um exercício às vezes difícil, quando se procura o sujeito-predicado-complemento originais. Ainda assim muito apreciável, não só pelos biografados, como pela visão arredada da normalidade noticiosa, do mainstream. Parece que também foi diplomata, mas sobre isso não se conhece nada de assinalável (mas posso estar enganado!).


Maria Velho da Costa 1938-2020

à direita, com Maria Teresa Horta e Isabel Barreno, foto de José Horta, via Ypslon, Público

Sempre gostei de Maria Velho da Costa, de quem tenho até vários livros. E sempre gostei muito desta foto (inédita, quando publicada no Público). A batalha destas mulheres pela liberdade de expressão, pela liberdade de ser mulher, foi impressionante e mostra bem o atraso do nosso país. Quando escreveram Novas Cartas Portuguesas (1972) – tenho um exemplar original, todo a desfazer-se, comprado pelo meu pai ainda antes da apreensão – sabiam bem o que estavam a fazer e o que iria originar na sociedade portuguesa. Nesta altura, a mulher era um objeto pertencente ao homem, pai, marido ou patrão; não votava, não tinha opinião, servia para estar em casa, cuidar dos filhos e acompanhar o sucesso do marido. Esta visão perpassou todo o regime ditatorial português, política oficial desde 1933. Foi neste ambiente que estas mulheres cresceram, foi este ambiente que estas mulheres desafiaram através da escrita. E conseguiram. A obra literária de Maria Velho da Costa, em parte aprofundando a temática de Novas Cartas Portuguesas, é meritória e merece ser lida.


Christo 1935-2020

https://christojeanneclaude.net/

Jimmy Cobb 1929-2020

via drummerworld.com, não assinada

Alfredo Tropa 1939-2020

via facebook Academia Portuguesa de Cinema

Ennio Morricone 1928-2020

via Vulture.com

Luis Filipe Costa 1936-2020

via Jornal i, não assinada

Alan Parker 1944-2020

Martyn Goodacre/Getty Images, via El Pais

Não sendo um grande realizador com uma obra notável na história do Cinema, lembro-me de quase todos os filmes que vi dele, com grande prazer. Infelizmente nunca vi nenhum filme de Alan Parker numa sala de cinema.


Joaquim Veríssimo Serrão 1925-2020

via a viagem dos argonautas, não assinada

Joaquim Veríssimo Serrão é um historiador fora do seu tempo e não é uma referência na historiografia nacional. Conforme diz Luís Reis Torgal, parafraseando Gasset, cada historiador é a sua circunstância e Serrão ficou agarrado à sua. Homem do regime ditatorial, amigo de Marcelo Caetano, nunca se libertou do facto de à data da revolução de 1974 ocupar o cargo de reitor da Universidade de Lisboa, já depois das convulsões de 1969 que culminaram com espancamentos, prisões de estudantes e posterior envio para a frente de guerra, nas colónias africanas. Serrão esteve em França, na década de 1950, como leitor de português no consulado de Toulose, mas, ao contrário de muitos historiadores, intelectuais e artistas que estiveram em França, como Victor de Sá, Joel Serrão (com quem colaborou no Dicionário da História de Portugal), Victorino Magalhães Godinho, não terá contactado com os historiadores da Nova História. E isso parece refletir-se na sua obra magna, uma História de Portugal em 19 volumes, inteiramente escrita por si. Com todo o mérito e demérito, esta obra é a sua visão do mundo, que é um mundo avesso à interdisciplinariedade.

 
Fernanda Lapa 1943-2020

via semanário Expresso, não assinada

Waldemar Bastos 1954-2020

foto de promoção de Waldemar Bastos, via FMM-Sines, 2007


E. M. de Melo e Castro 1932-2020


 
Origem das imagens dos poemas visuais: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?curid=5148216; Best net leilões e http://mnunesponte.blogspot.com
 

Gary Peacock 1935-2020

Roberto Masoti, ECM Records

Vicente Jorge Silva 1945-2020

Pedro Nunes, semanário Expresso

Diana Rigg 1938-2020

via DN, não assinada

Ruth Bader Ginsburg 1933

Ruven Afanador, via Elle Magazine

Juliette Gréco 1927-2020

JM Lubrano, via rfi.fr

É impressionante o número de pessoas neste mega-postal-obituário que conviveram de perto com Miles Davis: Gréco, McCoy Tyner, Jimmy Cobb, Lee Konitz, Gary Peacock... Foi uma geração que se perdeu... Como todas! Não falando sequer na ligação entre Gréco e Piccoli. É o nosso mundo, a nossa cultura e as nossas vidas que se degradam lentamente, perante o desfilar impiedoso do tempo. Falar da morte é falar da vida. Estamos todos bem: até sempre!