sexta-feira, 21 de março de 2014

I'm on Fire! today in Portalegre Jazz Fest

Just for you to know Fire! Orchestra realese another work – Exit! Second Coming – early this year, a 500 vinyl copies recorded live with the same tracks realeased a year ago in the Exit! album, with a 30 musician orchestra (the video above is a short version orchestra). You can find their albuns in Portugal at Flur Records but, precious, you can see them TODAY at Portalegre Jazz Fest (unfortunately in their magnificent trio version). Follow them here!

domingo, 5 de janeiro de 2014

Eusébio (1942-2014)



O Portugal do “fado, futebol e Fátima” terminou hoje com a morte do Eusébio! 
imagem não assinada retirada de desporto.sapo.pt
Nada mais enganador por razões que não vou explicar agora, mas basta vivermos estes anos de chumbo impostos pela troika (Barroso-Lagarde-Merkel/Coelho-Portas-Cavaco), que se caracterizam pela desregulamentação das leis do Trabalho, pela transferência massiva dos recursos do Trabalho para o Capital, pela imposição da perda de soberania económica nacional ou pela destruição do Estado Social, em plena democracia – repito – em plena democracia, para percebermos que o Portugal do “fado, futebol e Fátima” não morreu hoje, está vivo e ataca forte o povo que nele se formou(a) e viveu(e).

O que quero dizer, no fundo, é que o Portugal do “fado, futebol e Fátima” é um Portugal simbólico, criado por uma elite fascista que revitalizou um género musical marginal, aprisionou um jogador excepcional negro e fomentou um culto religioso como forma de subjugar o imaginário colectivo, mantendo sob alçada um povo inculto, atrasado e supersticioso.

A morte do Eusébio chega a estas páginas por duas razões, uma transversal, a outra histórico-antropológica (ou sócio-política).

imagem não assinada retirada de reflexaoportista.pt
Eusébio não é do meu tempo, mas sei que foi um jogador de futebol excepcional. Não existem muitos registos audiovisuais dos seus feitos (o futebol hoje é sobretudo o espectáculo audiovisual), nem conheço ninguém vivo que o tenha visto em campo (na verdade, o meu avô viu-o jogar no Beira-Mar e afirma que era uma sombra do que sabia que ele tinha sido), mas todos conhecemos a sua extraordinária qualidade de atleta, no futebol nacional e internacional.

Porém, Eusébio é muito mais do que isso e serviu muito mais do que o desporto de massas. Eusébio, jogador negro nascido em Moçambique, colónia de Portugal, é um símbolo do fascismo racista do Portugal colonialista. Perguntei hoje, em família, quantos negros conheceram a trabalhar na Administração Pública no Portugal “salazarento”: contam-se pelos dedos de uma mão e, na verdade, de todos os que se lembram, nenhum deles era negro, apenas mestiços!

O Portugal fascista usou Eusébio como bandeira para justificar o colonialismo, para afirmar internacionalmente que Portugal não era racista e que os negros estavam perfeitamente integrados na nossa sociedade. Nada mais falso,como sabemos.

Mas, mais grave que a própria morte de Eusébio, que merece todas as homenagens enquanto atleta, é o infame Presidente da República Portuguesa Cavaco Silva que teve o desplante de surgir hoje na televisão pública a enaltecer a sua figura.

imagem não assinada retirada de tvi.iol

O sentido de prioridade estratégica deste homem, que é oPresidente da República dos portugueses que nele votaram e que é a principalforça de bloqueio político que se impôs ao povo português, é errado, antiquadoe desadequado e moral e politicamente discutível. O inefável algarvio que comanda a política nacional há várias décadas perdeu uma oportunidade para estar calado, para mandar dizer sobre a justa homenagem ao atleta, mas ao surgir em pessoa com a lágrima ao canto do olho demonstra que quer condenar Portugal e os Portugueses à espuma dos dias e não à essência da coisas. E a essência das coisas é aquilo que mais necessitamos nestes anos de chumbo.

imagem não assinada retirada de zerozero.pt, provavelmente da GettyImages
Eusébio merecia o descanso necessário e não o aproveitamento que este político medíocre, em plena democracia, vem dar continuidade.