sábado, 29 de dezembro de 2007

o que fazer a esta gente? (II)

O jornal Público, essa referência do grupo Sonae, começou a fazer os balanços de 2007 duas semanas antes do fim do ano. Uma boa ideia: já não há paciência para os apanhados do ano na imprensa. Registo a crónica da ex-editora de política São José Almeida no dia 22 de Dezembro (sem link, claro). O texto da jornalista chama-se apenas 2007. Apenas. E diz tudo:
"...do outro lado das plumas e das lantejoulas, dos sorrisos, do glamour e da adrenalina da cerimónia de 13 de Dezembro [assinatura do acordo de Lisboa], há uma revolução em curso na Europa que passa pelo retrocesso no caminho civilizacional da conquista de liberdade individual e de conquista dos direitos individuais dos cidadãos europeus. Claro que a liberdade política não está em causa. Há, porém, toda uma organização social – contida no modelo social europeu, mas não só – que está a ser desfeita, numa luta de classes inédita na história, que as elites, as castas dirigentes lutam de forma desesperada e sem apelo pela retirada de direitos sociais, económicos e laborais individuais – ainda que substituindo-os por direitos de família, como aconteceu já em vários países europeus, desde a Inglaterra de Margaret Thatcher até à Alemanha de Angela Merkel."
São José Almeida escreve:
"O balanço do ano de 2007 em Portugal é forçosamente o dessa luta e a imagem da cimeira de Lisboa tem como contraponto uma outra imagem de forte simbologia: a da manifestação de 18 de Outubro convocada pela CGTP, para o Parque das Nações , em Lisboa, e que juntou 200 mil manifestantes que protestavam contra a flexi-segurança. Precisamente contra o modelo de organização laboral da sociedade que está a ser introduzido na Europa e que tem como objectivo proteger não os cidadãos, mas o mercado, proteger os proprietários dos meios de produção, os empresários que detêm as empresas, os gestores que as gerem, em suma, a elite, a casta que detém o poder económico."
"...o objectivo é agora abater o princípio da segurança no emprego. Essa anuncia-se como uma meta para 2008, a prosseguir por Sócrates se para isso tiver fôlego, na ressaca da presidência europeia. Conseguir padronizar, formatar (anular) os direitos laborais de acordo com o modelo defendido pelos que orientam a revolução na Europa. Isso para não falar do outro objectivo a cumprir por Sócrates: a reestruturação dos serviços públicos, com a anunciada e previsível extinção, total ou parcial, de muitas das funções sociais que o Estado assegura e para as quais os cidadãos pagam impostos, precisamente de acordo com o princípio da solidariedade social."
O que é que está a acontecer?:
"A alternativa que tem sido posta em marcha, é a entrega do desempenho dos serviços a privados. Ou de forma assumida ou empurrando para o mercado privado os cidadãos. É, aliás, isso e não maias do que isso que tem sido feito na educação e na saúde. Numa política propagandística assumidamente de 'terrorismo psicológico' para colocar os cidadãos perante a verdade única e absoluta da nova revolução em marcha: a de que as pessoas e os seus direitos custam caro ao Estado e à sociedade. Como se as pessoas fossem parasitas. Com o cúmulo da propaganda deste tipo que é fazer passar a imagem de que os funcionários públicos não trabalham, os professores não ensinam e os médicos não curam. Logo, a alternativa é o mercado privado. Onde se compram e pagam os serviços, não se usufruindo de direitos, como o de ter educação e de ter saúde."




Qual Pedro Arroja, acrescento eu. A imagem que fica do ano de 2007 é a da manifestação da CGTP de 18 de Outubro, em Lisboa. E que seja também o pesadelo desses políticos das elites, que governam para as elites. Agora só falta aparecer aí o Constâncio a reclamar a contenção salarial, porque aumentar os salários é mau para a economia. É mau para as elites, leia-se.

[ouvindo nanã - moacir santos, in maestro, 1972]