terça-feira, 23 de dezembro de 2008


Os Fadomorse foram uma das dezenas de bandas que JP Simões andou a entrevistar por esse Portugal fora. O resultado apareceu no Quilómetro Zero (Km0) e foi das melhores coisinhas que o serviço público de televisão passou este ano. Ver aqui as bandas entrevistadas, ou aqui.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O que é que andei a ver no Cinema [ou balanço e balancete de 2008, annus horribilis]

Vou apresentar uma lista do que mais relevante para mim aconteceu este ano, ao nível cultural. Sim, sim, estou rendido às listas, ao best of, aos balanços; parafraseando Pessoa, todas as listas do melhor do ano são ridículas/ não seriam ridículas se não fossem listas do melhor do ano…


Eu acho que os portugueses, com essa terrível tendência para o saudosismo e medo do futuro, têm que fazer listas do melhor do ano, para se lembrarem do passado. Pois bem, este ano apresento a minha, o meu balanço e balancete. Cultura, cultura, só isso.


[javier bardem no papel de anton chigurg em «no contry for old men»]


Comecemos então pelo Cinema: 2008 foi um ano péssimo para mim. Esperei por Janeiro para ver o multi-premiado «No Country for Old Men» (2007), dos Irmãos Cohen. A experiência foi boa e má. Não tenho dúvidas que o filme está na categoria «excelente», mas…


A sala que escolhi para o ver é péssima: Eu já sabia disso, mas quis ver o filme ali, nos cinemas do Shopping Cidade do Porto.


Mas o ecrã estava todo sujo, a insonorização da sala é má (ouve-se o filme ao lado), o sistema de som tem muitas falhas e já não tem a qualidade de outrora, o ingresso é caro, as cadeiras estão estragadas e são desconfortáveis, o ar condicionado é ruidoso e pouco eficaz…


Todas as receitas para estragar o ambiente. Eu já sabia disso tudo, mas quis ver o filme ali. Porquê? Porque são os cinemas do Paulo Branco, de quem eu sou um seguidor. Graças a este exibidor/distribuidor/produtor há cinema europeu no Porto. E se ele não possuísse estas quatro antiquadas salas no Porto [e agora o pequeno estúdio do Teatro do Campo Alegre] não havia cinema europeu no Porto. E eu sabia também que ele estava (está) com problemas financeiros e, mesmo reconhecendo a falta de qualidade das salas, quis contribuir com qualquer coisa para que os cinemas não fechassem. Esse risco é real. 2009 pode até ser o ano em que Paulo Branco vai embora do Porto. Espero que não, espero que seja o ano em que ele renove as salas e volte a ter muito público [interessante a entrevista de Paulo Branco à Pública de 7 de Dezembro de 2008, sem link].


[gerardo burmester]


Faço uma sugestão ao Paulo Branco: porque não vender os quadros do Gerardo Burmester [será que são dele, ou já os vendeu?] e investir o dinheiro na renovação das salas, reforçar a programação europeia, fazer uma parceria com a futura extensão da Cinemateca Portuguesa no Porto, reforçar a parceria com o Instituto Franco Português, Instituto Goethe, Instituto Italiano, etc.? Fazer uma extensão do Estoril Film Festival, no Porto?


O pior estava para vir. Regressa absorto do filme, decidido a revê-lo, não por que não compreendesse o filme, mas porque não o usufrui na plenitude, e Pumba!, Crash!, Trash! Fzsssssssss!....


[«crash», de david cronenberg]


Pois tive um acidente de carro. Alguém se espetou contra mim, estragou-me o carro todo. Não tive culpa! Era um cruzamento e eu tinha a prioridade e vinha devagar. A senhora que se espetou contra mim é que não vinha nada devagar e por pouco não me mandava para o hospital.


Depois, já se sabe, o costume: mecânico, seguradora, pedir por favor, muito favorzinho, suplicar, que a minha seguradora me pague o arranjo do carro – a que estavam obrigados, aliás. [Posso-vos dizer que a OK Teleseguro Grupo Caixa Geral de Depósitos Sucks!, como aliás qualquer seguradora; para receber o nosso dinheirinho são os melhores, atenciosos, simpáticos, e etc.; para pagar, assobiam para o lado. Típico. Seguradoras e bancos Sucks!].


Com isto perdi quase três meses e fiquei traumatizado. Não mais fui ao cinema neste ano de 2008. Perdi «Angel», de François Ozon, que aponto como o melhor realizador europeu da actualidade, perdi o ciclo integral de Manuel de Oliveira, em Serralves, e sou capaz de ter perdido mais outras coisas, mas nada que me cativasse especial atenção [deixei passar o Ciclo de Cinema Francês, o Ciclo de Cinema Italiano, «A Turma», de Laurent Cantet]. Tenho ideia que 2008 não foi um ano muito interessante no cinema, mas posso estar enganado. [De notar que os dois filmes que citei para o ano de 2008 são… de 2007! Será que estou atrasado?]


[Regarde la Mer]


Mas atenção, vi uma pérola na televisão! [Lá está, se não fosse a televisão e sua função formativa e divulgadora...] Tenho que registar e devo registar o visionamento desta média-metragem (52 minutos) e posso dizer que foi um dos filmes mais violentos que vi. E foi por mero caso, liguei a televisão em horas impossíveis e começou a dar um filme, que me cativou logo pela qualidade da fotografia. A história foi-se adensando e já não consegui sair da frente do ecrã. Até descobrir que era um filme de… François Ozon! Em concreto, chama-se «Regarde la Mer» (1997).


[cassandra magrath]


Registo também outro filme, australiano, um thriller, que dividiu muito a crítica quando saiu para circuito comercial [não sei se passou em Portugal]. Eu sou dos que gosta do filme. E faço menção disso. Viu-o, where else?, na televisão, este ano. Acho que na TVI, em horas impróprias, claro! Chama-se «Wolf Creek» [realizado e escrito por Greg Mclean] e é de 2005. É apresentado como filme de terror, mas na verdade é um thriller, é realista e não tem monstros ou fantasmas ou outras coisas do género. Diz-se que é baseado em factos reais [o próprio filme faz referência a isso] mas não é verdade. Aquilo que é verdade, é facto, é que desaparecem cerca de 9000 pessoas por ano na Austrália. E cerca de 90 por cento voltam a aparecer noutro canto qualquer da Austrália, vivos e de boa saúde.


Concordo que o Mick Taylor é uma das construções mais violentas (e realistas) que vi nos últimos anos em filmes. É um serial killer protagonizado por John Jarratt. Fiquei fã de Cassandra Magrath. Filme recomendado para quem gosta do género. Ou de filmes sobre serial killers.


Já agora, uma referencia cinéfila. John Jarratt entrou no filme «Picnic at Hanging Rock» (1975), um filme de Peter Weir, antes de se mudar para os States. Não o vi no cinema, vi-o na televisão [na RTP2, há muitos anos, antes das privadas, quando a RTP2 era o verdadeiro canal de referência] e foi dos filmes que mais me impressionou, no campo do thriller. Quase todo filmado em exteriores [tal como «Wolf Creek»], conta o mistério de duas crianças que desapareceram num piquenique em Hanging Rock. Filme de época, a acção desenrola-se em 1900.


[the proposition]


Filme de época, também australiano, e quase todo filmado em exteriores é «The Proposition» (2005) de John Hillcoat, escrito por Nick Cave, com música de Nick Cave e Warren Ellis (violinista). Bastante violento, a acção desenrola-se no farwest australiano em 1880 [farwest no sentido faroeste de índios e caubóis, no caso aborigenes autralianos e caubóis]. O filme chegou cá em 2007, altura em que o vi [devia estar fora desta lista]. As referências históricas são surpreendentes! Só neste ano de 2008 o parlamento e o primeiro-ministro australianos resolveram pedir desculpa aos aborígenes australianos por lhes ter separado gerações inteiras de famílias, por lhes ter proibido o direito à propriedade privada. Notem bem: aborígenes australianos, indígenas da Austrália, estavam lá antes de chegarem os outros, há 65 mil anos, mas estavam proibidos de ser donos de terras!


Mas, chega, chega de referências. [E chega de Austrália. 2008 foi o meu ano australiano!] Como vêem, foi pobrezinho o meu ano cinematográfico.


ACTUALIZAÇÃO a 11 de Dezembro, dia do nascimento de Manoel de Oliveira: o que perdi em 2008 e me esqueci de referir:


O Capacete Dourado, Jorge Cramez


Entre os dedos, de Tiago Guedes e Frederico Serra


Mal nascida, de João Canijo


Aquele querido mês de Agosto, de Miguel Gomes


a curta China, China de João Pedro Rodrigues


AAAHHHH!! Mas vi na televisão (duas vezes, RTP2) o ROCKUMENTÁRIO, de Sandra Castiço, sobre esses inefáveis BUNNYRANCH (são os maiores!)


BUNNYRANCH - IN THE LAND OF THE POOR (MUSIC VIDEO) from Zed Filmes on Vimeo.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Capitulo XXIX (ou C ou CL ou M ou...) Sabe a quem pertencem as frases?





"Todos têm a minha confiança, estão acima de qualquer suspeita!"

"Porreiro, pá!"

"Está tudo bem, tudo a funcionar normalmente"
"Não, não sei de nada!"



"Não, nunca ouvi falar em nada disso"

"Todo o sistema financeiro está a funcionar normalmente"



[ouvindo manic depression, nguyên lê, celebrating jimi hendrix purple, 2003]

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Capitulo II (ou III ou IV ou V ou VI ou VII ou...)

Era uma vez um banco que não gostava de pequenos aforradores. Nem pequenos investidores. Ou pequenos depositantes. Era um banco que não gostava dos pequenos. O banco era pequeno, chamava-se BPP, mas só gostava dos grandes. Grandes negócios, grandes depositantes, grandes investidores. Era um banco que se especializou em gerir as grandes fortunas dos grandes magnatas.

(foto da RTP)

Mas um dia, um dia frio e chuvoso, descobriu-se que o banco estava falido. O banco tinha andado a investir as grandes fortunas dos grandes magnatas em fundos de investimento no estrangeiro que prometiam grandes lucros. Durante algum tempo, as grandes fortunas dos grandes magnatas ficaram ainda maiores. Mas depois descobriu-se que os fundos de investimento no estrangeiro não valiam nada, eram baseados em especulações de especulações; e quando alguém quisesse realizar o dinheiro desses fundos, não tinha nada porque eles já não valiam nada.

(o pequeno banqueiro das grandes fortunas, foto da Lusa)

Os grandes accionistas do pequeno banco das grandes fortunas, que já estavam a perder as grandes fortunas, juntaram-se e foram bater à porta do Governo do PS. Disseram ao Governo do PS que se não os ajudasse, não poderiam contribuir para a campanha eleitoral dali a alguns meses. O Governo do PS, assustado, tratou logo de resolver o problema. Juntou os outros bancos, os bancos normais, das fortunas médias, das fortunas pequenas e dos pequenos ordenados, e disse-lhes para ajudarem o pequeno banco das grandes fortunas.

Os bancos normais disseram que sim, mas queriam mais. Era preciso que o Governo do PS pegasse no dinheiro público, no dinheiro do povo e dos pobres que pagam grandes impostos, e o injectasse no pequeno banco das grandes fortunas. Era a única forma dos bancos normais ajudarem o pequeno banco das grandes fortunas. E o Governo do PS assim fez, pegou no dinheiro dos pequenos e do povo que paga grandes impostos, e meteu-o no pequeno banco das grandes fortunas. O pequeno banco das grandes fortunas foi salvo da falência e continuou a gerir o dinheiro dos grandes magnatas.

("porreiro, pá!", disponível em qualquer blog de referência)

Moral da história: Se fores rico e tiveres problemas, vai bater à porta do Governo do PS que eles ajudam; se fores pobre e tiveres problemas, faz tudo o que puderes, qualquer coisa, para seres rico.

[Alô, Alô Brasil: aquele abraço: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15410&boletim_id=497&componente_id=8695]

[O que é que o Fernando Pessoa tem a ver com isto?: http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/239e014cc8fb46f899494c.html]

[Importa-se de repetir senhor Chomski? É que alguém pode não ter percebido: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15292&alterarHomeAtual=1]


[ouvindo politicar, tom zé, defeito de fabricação, 1998]