Edvard Munch, 1893, O grito, National Gallery of Norway, via wikipedia
Uma vez convivi com um rapaz esquizofrénico, recém diagnosticado. Disse-me que gostava de viver em monarquia, mostrando um saudosismo do tempo dos reis, das rainhas e dos príncipes numa quase alucinação só comparável aos contos de fadas. Disse-lhe logo que isso não fazia qualquer sentido, que ele tinha uma ideia errada da monarquia, e que se vivêssemos em monarquia, tudo faria para que ela acabasse, seria até candidato a matar o rei. Olhou para mim com um medo terrível nos olhos, algo que nunca tinha presenciado. Mudei de assunto, depois despedimo-nos. Nunca mais o vi. Talvez o tenha visto, talvez dos tenhamos cumprimentado, mas nunca mais conversámos.
Chegada a Lisboa de Maria Ana de Áustria, em 1708, gravura alemã, via wikipedia
Seria incapaz de matar alguém. Mas não suportaria que vivêssemos em monarquia. Não há nada de especial nisso. Nunca vivi em monarquia, mas conheço um pouco da história de Portugal para não desejar viver em monarquia. Podia-se dizer que a monarquia se vai modernizando, que os seus agentes também, que hoje até seria uma boa solução para o país, mais económica. Mas isso não me serve. Sejamos todos egoístas: se fosse eu o rei ou o príncipe, não me importaria que vivêssemos em monarquia.
Busto da República, barro, não assinada, coleção particular
A República em Portugal e no resto do mundo tem uma coisa que a monarquia nunca terá: qualquer um, dentro das regras, pode ser o presidente. Eu posso ser o presidente, o meu filho(a), o meu neto(a) podem ser presidentes da República. Mas nunca seriamos reis ou rainhas. Esta realidade, por mais distante que nos pareça, está sempre muito mais próxima de nós do que alguma vez a minha família vier a ter linhagem real. Continuo a considerar actuais os princípios da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Estes princípios nunca serão alcançados em monarquia.
José Relvas proclama a República, em 1910, perante um país indiferente e analfabeto. Joshua Benoliel, via wikipedia |
O ditador a discursar na Assembleia Nacional, sobre a adesão à NATO, em 1940. via DN |
Medalha comemorativa das 1.ª eleições presidenciais livres; por Baltazar, numerada, coleção particular |
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