terça-feira, 24 de maio de 2011

Quem são os «20 magnificos»? – por Manuel António Pina

Com 689 000 desempregados e 204 000 "inactivos" (pessoas que desistiram já de procurar emprego), isto é, 15,5% de gente sem trabalho que os critérios estatísticos transformaram em 12,4%, o país já há muito teria soçobrado não fosse o patriótico esforço daqueles que, para compensar a calaceirice nacional, se desdobram por sucessivos postos de trabalho, correndo incansavelmente de um para outro, indiferentes à tensão arterial, ao colesterol, aos triglicerídeos e à harmonia familiar.

O Relatório Anual sobre o Governo das Sociedades Cotadas em Portugal - 2009, da CMVM [Comissão de Mercado de Valores Mobiliários], agora tornado público, refere "cerca de 20" desses magníficos, todos membros de conselhos de administração de empresas cotadas, muitas delas públicas, que "acumulavam funções em 30 ou mais empresas distintas, ocupando, em conjunto, mais de 1000 lugares de administração".

Revela a CMVM que, por cada um destes lugares, os laboriosos turbo-administradores recebem, em média, 297 mil euros/ano, ou, no caso dos administradores-executivos, 513 mil, havendo um recordista que, em 2009, meteu ao bolso 2,5 milhões de euros.

Surpreendente é que, no meio de tanta entrega ao interesse nacional, estes heróis do trabalho ainda encontrem nas prolixas agendas tempo para ir às TV exigir salários mais baixos e acusar desempregados, pensionistas e beneficiários dos "até" (como nos saldos) 189,52 euros de RSI [Rendimento Social de Inserção] de viverem "acima das suas possibilidades".
[publicado no Jornal de Notícias de 24 de Maio de 2011.]

Um texto irónico, mordaz, que dispensa comentários. Mas não resisto a lembrar que PS, PSD e CDS/PP, partidos actualmente em campanha eleitoral em disputa para prender o país a um acordo internacional FMI-BCE-CE que só vem aumentar as desigualdades, aumentar o fosso entre os (muito) ricos e os outros, sabendo que há alternativas credíveis e sérias nos partidos de esquerda, CDU (PCP/PEV) e BE, para uma sociedade mais justa e equitativa. É de outra sociedade e economia que precisamos – ideias que devemos levar aos países periféricos da Europa, para sua própria salvação – e a resposta não está nos partidos que nos governam desde 1976.

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