Somos explorados no trabalho, e não só
Também somos o lixo
Lixo na tê-vê, quem lá está e quem vê
Lixo no jornal, voz do seu capital
Estamos entregues aos bichos
E o lixo produz mais lixo
E o tempo a passar
E eu a cantar
Eu também faço parte do lixo
Há quem viva bem do nosso mal-viver
Nós somos lixo
Somos só lixo
Já não há gente, há só lixo
Dispensável, descartável, reciclável
E agora parem um minuto p'ra pensar
Há que humanizar a humanidade, e não só
Há que varrer o lixo
O do Capital, que é o lixo global
O lixo do Estado, que é o seu braço armado
O mundo é de quem manda
E o resto é propaganda
Tudo é publicidade
Mas a liberdade
É escolher entre ser ou estar
Tens a boca cheia de palavras lindas
P'ra ti sou lixo
Somos só lixo
Nós não somos gente, somos lixo
Dispensável, descartável, reciclável
Mas vou parar mais um minuto p'ra pensar
Vamos a casa
Ao fim do dia
Só p'ra regenerar a mais-valia
Ganhar forças, fazer filhos
Cada um no seu caixote
E amanhã tomar o bote
Para o paraíso dos cadilhos
Quem é o lixo
Eles são o lixo do corpo e da alma
Como é que se pode ter calma
P'ra varrer este monturo
Dos escombros do futuro
[Letra e música José Mário Branco
«Resistir é Vencer» 2004
Arranjo de sopros: Tomás Pimentel
José Paulo Esteves da Silva - piano
Carlos Bica - contrabaixo
Rui Júnior - percussão
Rui Marques - flauta alto
Jorge Reis - saxofone soprano
Tomás Pimentel - flugelhorn
Paulo Gaspar - clarinete baixo
Grupo Coral «Os Escolhidos»,
João Afonso e Tomás Pimentel - coro]
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