domingo, 12 de maio de 2024

50 anos/50 livros – 25 de Abril 1974/2024 - Energia Nuclear (xiv)

 Energia Nuclear


A chegada da Democracia, com a Revolução de Abril, trouxe um mundo de esperança em todos os sectores. Os poucos físicos e engenheiros nucleares em Portugal acharam que Portugal podia tornar-se independente e mais democrático através da instalação de centrais de energia nuclear, como aconteceu com a vizinha Espanha. Na verdade, uma miragem que tinha nascido ainda nos anos 1960 alegadamente porque tínhamos muito urânio no subsolo. A fileira do nuclear implica um enorme investimento público, não só em infraestruturas e tecnologia, como em capital humano. Se fosse essa a opção do Estado português durante o Estado Novo ou dos novos governos democráticos, arriscávamos a ter um país ainda mais desigual, porque as décadas de fascismo tinham tornado Portugal num Estado atrasado e profundamente carenciado de serviços públicos e infraestruturas básicas, como o abastecimento de energia, água e saneamento, habitação, sistema de saúde e educação. Estava tudo por fazer! Se optássemos pela energia nuclear, podíamos passar a ter centrais nucleares ao lados de bairros de lata! Por outro lado, a energia nuclear é uma energia cara e altamente perigosa, poluente, que necessita de investimento permanente. A sua perigosidade tem-se tornado evidente com os desastres dos últimos anos. Se houvesse uma catástrofe em Portugal, o país, que é pequeno, podia ficar irremediavelmente comprometido e com ele a nossa existência enquanto povo. Aliás, esse risco é iminente, pois se houver uma catástrofe em Espanha, para onde é que acham que vai a radiação?


ANÓNIMO – O suicídio nuclear português. Lisboa: Socicultur, Divulgação Cultural, outubro de 1977. Capa: Abel Agostinho.


O suicídio nuclear português é um livro panfletário contra a instalação do nuclear em Portugal, que já dava como certa na zona de Peniche, na Praia d'El Rei, em Ferrel. Faz parte de um conjunto de ações e iniciativas contra a central nuclear, que "começou" no dia 15 de março de 1976, quando a população de Ferrel marchou sobre o local das prospeções, no lugar do Moinho Velho. A contestação espalhou-se pelo país e só terminou em 1982, quando o projeto do nuclear foi abandonado. O livro reúne testemunhos contra o nuclear, apresenta uma lista de acidentes ocorridos em centrais, entre 1945 e 1975, e faz um resumo, através de notícias de imprensa, de todo o processo do nuclear até à grande manifestação de Ferrel. Nota-se que o livro é uma obra coletiva da Socicultur, por isso anónima, ninguém assume a autoria, mas aparece na página de rosto com os seguintes nomes: Afonso Cautela, Costeau, Nigel Hawkes, Michel Bousquet, Pierre Clermont, Charles Noël Martin. Na verdade, alguém retirou a opinião de alguns destes nomes sobre o nuclear e meteu-os no livro. A melhor parte da obra, apesar do tom panfletário, é a reconstituição do plano do nuclear, através de notícias da imprensa e de artigos de opinião, desde, pelo menos, 1966.




MOURA, Domingos; CARVALHO, Frederico; ROSA, Rui Namorado; FORTE, Alfeu Fernandes; CARAÇA, João Manuel Gaspar; REDOL, António Mota; BARRETO, João; MARTINS, João F.; RODRIGUES, M. – O que é a energia nuclear, oportunidade em Portugal. Lisboa: Moraes Editores, novembro 1978. Colecção Temas e Problemas, Série: Documentos.


Esta é uma obra de divulgação, escrita por especialistas, conhecedores de todo o processo do nuclear que até à data era desenvolvido por alguns países considerados avançados. Supostamente, o interesse do nuclear em Portugal surgiu por causa das nossas reservas de urânio, tal como  hoje sucede com o lítio, em Montalegre. Explicam os autores, nas conclusões, que o urânio existente não é suficiente para fazer funcionar uma ou duas centrais nucleares e que tornar-nos-íamos importadores de urânio, além de continuarmos a ser importadores das outras fontes de energia que continuarão a ser consumidas. Por outro lado, uma central como a que se pretendia construir, iria estar muito tempo parada, com custo elevados. Mais ainda: ficaríamos dependentes das empresas internacionais fornecedoras de materiais de manutenção, matérias-primas e também de mão de obra especializada. Os autores criticam a simplificação de argumentos daqueles que estão contra, por causa da poluição e da segurança, como os que estão a favor.

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