domingo, 12 de maio de 2024
50 anos/50 livros – 25 de Abril 1974/2024 - Energia Nuclear (xiv)
A chegada da Democracia, com a Revolução de Abril, trouxe um mundo de esperança em todos os sectores. Os poucos físicos e engenheiros nucleares em Portugal acharam que Portugal podia tornar-se independente e mais democrático através da instalação de centrais de energia nuclear, como aconteceu com a vizinha Espanha. Na verdade, uma miragem que tinha nascido ainda nos anos 1960 alegadamente porque tínhamos muito urânio no subsolo. A fileira do nuclear implica um enorme investimento público, não só em infraestruturas e tecnologia, como em capital humano. Se fosse essa a opção do Estado português durante o Estado Novo ou dos novos governos democráticos, arriscávamos a ter um país ainda mais desigual, porque as décadas de fascismo tinham tornado Portugal num Estado atrasado e profundamente carenciado de serviços públicos e infraestruturas básicas, como o abastecimento de energia, água e saneamento, habitação, sistema de saúde e educação. Estava tudo por fazer! Se optássemos pela energia nuclear, podíamos passar a ter centrais nucleares ao lados de bairros de lata! Por outro lado, a energia nuclear é uma energia cara e altamente perigosa, poluente, que necessita de investimento permanente. A sua perigosidade tem-se tornado evidente com os desastres dos últimos anos. Se houvesse uma catástrofe em Portugal, o país, que é pequeno, podia ficar irremediavelmente comprometido e com ele a nossa existência enquanto povo. Aliás, esse risco é iminente, pois se houver uma catástrofe em Espanha, para onde é que acham que vai a radiação?
Esta é uma obra de divulgação, escrita por especialistas, conhecedores de todo o processo do nuclear que até à data era desenvolvido por alguns países considerados avançados. Supostamente, o interesse do nuclear em Portugal surgiu por causa das nossas reservas de urânio, tal como hoje sucede com o lítio, em Montalegre. Explicam os autores, nas conclusões, que o urânio existente não é suficiente para fazer funcionar uma ou duas centrais nucleares e que tornar-nos-íamos importadores de urânio, além de continuarmos a ser importadores das outras fontes de energia que continuarão a ser consumidas. Por outro lado, uma central como a que se pretendia construir, iria estar muito tempo parada, com custo elevados. Mais ainda: ficaríamos dependentes das empresas internacionais fornecedoras de materiais de manutenção, matérias-primas e também de mão de obra especializada. Os autores criticam a simplificação de argumentos daqueles que estão contra, por causa da poluição e da segurança, como os que estão a favor.
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