Sindicatos (em mil palavras)
Os sindicatos e as associações de classe são uma das consequências da Revolução Industrial e têm um papel muito importante na regulação e regulamentação dos direitos dos trabalhadores, como contraponto ao poder do patronato e também do Estado que, historicamente, defende primeiramente as empresas e o lucro delas.
Nas sociedades avançadas, no norte da Europa, como os neoliberais gostam de evidenciar, os sindicatos têm um papel fundamental na regulação das relações entre o trabalhador e a empresa e entre o trabalhador, a empresa e a sociedade. Os sindicatos têm uma função primordial, na defesa do trabalho com direitos e salários mínimos, e são aceites com toda a naturalidade, como uma das organizações da sociedade que contribuem para a melhoria das condições de vida dos seus sócios e da sociedade no seu conjunto. Em algumas profissões a sindicalização é obrigatória, como acontece nos Estados Unidos, por exemplo.
Em Portugal, a situação é bastante diferente e está relacionada com a nossa História, a chegada tardia da Democracia, e a forma como os trabalhadores foram sempre subalternizados perante as empresas, com a ajuda do Estado. De forma muito incipiente, os sindicatos e as associações de classe formaram-se no nosso país, em meados do século XIX, acompanhando as correntes ideológicas que se alastravam por toda a Europa industrializada, como forma de combater o liberalismo e o capitalismo. Os abusos das empresas e do capital tornava impossível as condições de vida do operariado e de outras profissões, nas cidades e no campo.
Ganhavam forças as correntes ideológicas socialistas, republicanas, anarquistas e revolucionárias. Em Portugal, o anarco-sindicalismo, moderado, primeiro, revolucionário, depois, era a corrente sindical mais comum, no final da Monarquia e durante os 16 anos da República. Os republicanos combateram duramente os sindicalistas e o movimento operário.
A partir de 1912, sempre que havia uma greve, o governo enviava a Guarda Nacional Republicana, às vezes o Exército, para obrigar os grevistas a trabalhar e proteger a fábrica. E, frequentemente, dispersava as concentrações à bastonada e a tiro, prendendo e chegando a matar alguns grevistas. Por isso, quando chegou o Estado Novo, a partir de 1928, o movimento sindical estava enfraquecido. Os trabalhadores sindicalizados eram despedidos e acabavam por emigrar, além de que no final da Grande Guerra de 1914-18, o desemprego e o nível de vida subiram consideravelmente.
O Estado Novo tornou a sindicalização obrigatória em 1939, mas nem todos se tornavam sócios dos sindicatos. É que os sindicatos fascistas, designados “sindicatos nacionais”, não tinham poder reivindicativo, as direções destas entidades eram eleitas entre candidatos considerados “idóneos”, e depois ainda tinham de ser homologadas pelo governo. Os sindicatos do Estado Novo tinham-se tornado em sindicatos do regime, corporativos, “falsos sindicatos”, porque o governo negociava as condições laborais com as empresas e depois chamava as direções sindicais para assinar os acordos coletivos.

via https://www.cgtp.pt/
A partir da década de 1960, que também coincide com o início
da Guerra Colonial/Libertação, as direções sindicais começaram a ser
infiltradas por membros da oposição, muitos deles comunistas. Quando chegou o
25 de Abril de 1974, o movimento sindical aliou-se ao Partido Comunista Português fazendo
parte de uma frente revolucionária que esperava uma enorme movimentação popular
de forma a instaurar uma sociedade socialista e, por fim, uma “ditadura do
proletariado”. No entanto, nas primeiras eleições livres, em 1975, eleições para
a Assembleia Constituinte, que tinha a função de escrever a Constituição
Democrática, o PCP não foi além de 12,4% dos votos e gorou-se a possibilidade
de instaurar um regime socialista em Portugal.

UGT via https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=58426473


Logo a seguir, no mesmo ano, o movimento sindical procurou a unicidade
sindical, quer dizer, uma única central sindical que agregasse todos os
sindicatos na Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional. Mas o
Partido Socialista não deixou e apoiou outra central sindical, a União Geral dos Trabalhadores,
dividindo a influência dos sindicatos. Ficámos, pois, com duas centrais sindicais, ambas com assento na Concertação Social, que é o órgão onde se reúnem os patrões,
os sindicatos e o governo, para discutirem periodicamente as questões laborais,
como a Lei do Trabalho, os acordos coletivos de trabalho (que abrangem todos os
trabalhadores de determinado sector, mesmo que não sejam sindicalizados), os
aumentos salariais, a melhoria das condições de trabalho, etc.
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Movimento dos Coletes Amarelos em Verneuil Grand, França, por Carmelo DG via https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=75945855
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