sexta-feira, 17 de maio de 2024

50 anos/50 livros – 25 de Abril 1974/2024 - Alexandre O'Neill - Poesia (xv)

 Alexandre O'Neill - Poesia


Alexandre O'Neill (1924-1986) foi um poeta português surrealista e concretista, com edição desde 1948. Está na fundação do Grupo Surrealista de Lisboa, nesse mesmo ano. De origem "burguesa", O'Neill trabalhou como escriturário na administração corporativa do Estado, mas tornou-se publicista em 1959. Escreveu habitualmente em jornais e revistas de Lisboa até à década de 1980. Individualista e boémio, não pertenceu a partidos ou movimentos políticos, embora fosse "oposicionista". Foi várias vezes incomodado pela PIDE, que o impediu de sair do país, na década de 1950.



O'NEILL, Alexandre – Tomai lá do O'Neill! Uma antologia. Lisboa: Círculo de Leitores, dezembro de 1986. Seleção de poemas e prefácio de Antonio Tabucchi. Fotografia intexto e da sobrecapa de Alexandre Delgado O'Neill. Sobrecapa e arranjo gráfico de Luiz Duran. 


A edição de Tomai lá do O'Neill! foi um acontecimento literário nacional e um sucesso de vendas da editora Círculo de Leitores. A editora, apenas aberta aos sócios, decidira publicar uma antologia de escritos de Alexandre O'Neill, prontamente aceite pelo poeta que, no entanto, deixou a escolha dos poemas entregue ao amigo escritor e seu tradutor, Antonio Tabucchi (1943-2012). A obra contém poemas de O'Neill entre 1951 e 1986, apresentados de forma cronológica, dos mais recentes para os mais antigos. É uma edição luxuosa, numerada, de capa dura, com sobrecapa, papel couchê e fotografias do seu filho Alexandre Delgado O'Neill. O sucesso editorial surgiu como uma homenagem ao poeta que tinha falecido pouco antes da edição do livro. 

 

LEGO

 
Está tudo conformado
ao triste proprietário.
Mecânicas ovelhas,
na erva de plástico,
têm pastor de pilhas
e cão pré-fabricado.
Flores marginam esse
às peças-soltas prado.
Eléctricas abelhas,
obreiras sem contrato,
daquele herbário extraem
um mel supermercado.
A malhada, no estábulo,
quase manga de alpaca
(é A VACA, sabias?),
dá leite engarrafado.
No céu (para colorir)
a nuvem, pontual,
aguarda a vez de ser
chovida no nabal,
enquanto o Sol dardeja
na eira proverbial.
Já tudo afeiçoado
ao bom do proprietário
(ervas, bichos, moral),
ele conta com os seus
e espera sempre em Deus.

(«- Deste corda ao pardal?»).
 

10-iv-74


(p. 67)

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