O debate em defesa do serviço público de rádio e televisão e serviço público de agência noticiosa em Portugal, organizado pelo Sindicato de Jornalistas, na quarta-feira à tarde (06/07/2011), em Lisboa, parece ter sido ignorado pelos órgãos de comunicação social e também não são visíveis reacções ou discussões sobre o tema na internet (refiro-me aquele espaço da internet que não necessita de inscrição do utilizador).
Aparentemente, os jornalistas e o público (a base da opinião pública) estão alheados ou anestesiados face às intenções do actual governo em acabar com os serviços públicos mencionados.
On-line, os jornais diários de referência – Jornal de Notícias, Público, Diário de Notícias, Correio da Manhã, i, Expresso (não consegui aceder ao Sol, talvez por ser sexta-feira) – não fazem qualquer referência ao debate, o que poderá significar que para estes órgãos de informação o serviço público de rádio e televisão e serviço de agência noticiosa não tem importância, não é relevante. Pode até significar outra coisa, por exemplo, o silenciamento do Sindicato de Jornalistas, que organizou o debate. No fundo, o serviço de agenda dos órgãos de informação, que normalmente é composto por editores e chefias, sejam eles quais forem, não atribuem importância ao assunto, pelo que não deve ser divulgado nas suas páginas. Penso que isto é significativo.
Seja como for, é preocupante este alheamento/silenciamento/desinteresse face a uma série de serviços básicos na área da informação, que são inerentes às sociedades democráticas contemporâneas, e que são objecto de acompanhamento sistemático, por parte dos poderes e do público, nos chamados países desenvolvidos (ou em vias desenvolvimento).
Deixo o link da notícia do debate publicada no sitio do Sindicato de Jornalistas, que faz a síntese do acontecimento.
Apanhei também, através da RTP e da SIC, os primeiros parágrafos da notícia da Agência Lusa, que foi o único órgão de informação a cobrir o acontecimento. A notícia da Lusa, integral, pode ser lida no site Meios & Publicidade, aqui.
CONVIDO TODOS OS LEITORES DO MEIOS DE PRODUÇÃO A UTILIZAREM A CAIXA DE COMENTÁRIOS PARA DIZER O QUE PENSAM SOBRE OS SERVIÇOS PÚBLICOS DE INFORMAÇÃO E SOBRE AS INTENÇÕES DO GOVERNO.
2 comentários:
Acho que o serviço público de rádio e tv devia acabar. São tão maus, ou são tão pouco serviço público, que não deviam existir. Afinal, somos nós que os financiamos. Quanto à Lusa, disseram-me que é uma empresa que dá lucro, e se calhar por causa disso é que vai ser vendida. Acho que estamos melhor servidos sem os serviços públicos, porque tudo o que eles nos dão nós encontramos nos outros canais.
J. FReitas
Caro J.F.
Não concordo nada com o que diz.
Defendo um serviço público de rádio e televisão, de acesso gratuito, pluralista, de qualidade, abrangente, mas também regional(ista). Mais ou menos conforme está no contrato de serviço público entre o Estado e a empresa de capitais públicos RTP. Embora paguemos taxa de serviço público por estes serviços, entendo que não o deveríamos fazer, mas defendo o seu financiamento pelo orçamento de Estado e através de uma cota mínima de publicidade para compensar custos.
O serviço público não deve concorrer com os privados, deve ter a sua agenda própria, tanto na informação, como no entretenimento e na formação. Não é isso que se verifica actualmente. O serviço público rendeu-se à competição com os privados e isso fez descer a qualidade da programação e mesmo da informação.
Considero actualmente que o serviço público de rádio é, na generalidade, melhor que o de televisão, apesar de praticamente não ter publicidade. Os privados têm dois únicos propósitos que são a garantia de dividendos pelos seus accionistas e a influência política. A RTP, ao concorrer com esta lógica, está a condicionar fortemente a sua função original.
Admito e até defendo alterações na estrutura global da televisão pública. Por exemplo, a RTP Memória poderia desaparecer e aproveitar os seus melhores programas para emissão na RTP2 (seria bom acabarmos com a programação de baixíssima qualidade produzida nos tempos do fascismo, incluindo aqueles filmes a imitar o teatro de revista). A RTP África deve continuar, é uma questão estratégica, mas deve ser melhorada, não tem que estar a acariciar as costas dos déspotas das nossas antigas colónias, deve posicionar-se como elemento de formação dos povos africanos de expressão portuguesa, melhorando o acesso livre via satélite para o continente africano.
Percebeu já que defendo a manutenção dos dois principais canais televisivos; mas a RTP2 tem que ser substancialmente melhorada e apostar numa programação cultural de qualidade (sem que isso se traduza em aumento de custos), que actualmente não tem.
Quanto à Lusa, a lógica é a mesma. Se ela acabar (porque vendê-la a privados significa o seu fim) nunca mais se ouvirá falar das gentes de Freixo de Espada à Cinta ou no lugar do Pulo do Lobo porque a empresa privada jamais enviará uma equipa de jornalistas para cobrir aquela realidade (a não ser que o Presidente da República tenha caído às águas do Guadiana).
O serviço público de rádio e televisão e a manutenção de uma agência noticiosa é uma questão estratégica nacional, pelo que isso significa no âmbito da coesão nacional, formação de identidade colectiva, elemento de desenvolvimento cultural e linguístico, garantia de pluralidade, independência e isenção (expectável, pelo menos).
Contra toda a lógica e contra todas as tendências do mundo ocidental, o actual governo está a mandar o serviço público pela janela. Porquê? Eu não sei a resposta e os nossos governantes também não, pelo menos não a revelam.
Caro J.F., cumprimentos e volte sempre
PA
Enviar um comentário