segunda-feira, 4 de julho de 2011

António Jorge Branco (1937-2011)

Conheci o António Jorge Branco em 1991/92, no Porto. Foi o meu professor de radiojornalismo na ESJ. Era de facto muito exigente, conforme testemunhou hoje no serviço público de rádio Adelino Gomes, recordando o criador do estilo jornalístico da TSF [ouvir em baixo].


AJB ajudou a fundar a cooperativa de jornalistas que está na origem da TSF – Rádio Jornal, que me lembre a primeira rádio em Portugal a emitir noticiários de meia em meia hora e que marcou definitivamente o panorama jornalístico português na década de 1990, nos anos em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro. Ao contrário dos tempos actuais, onde se nota uma forte concentração da propriedade dos meios de comunicação social, naquela época os jornalistas eram destemidos: chegavam a acordar os ministros logo pela manhã, para os confrontar com o facto noticioso. Hoje isso já não é possível, quando muito telefonam pela manhãzinha aos ensonados assessores de imprensa para os confrontar com o facto noticioso!


Lembro-me perfeitamente da primeira matéria que nos dava no atelier de Rádio: a revista de imprensa. “Vocês espalham os jornais sobre a mesa, depois sobem no helicóptero e começam a pairar sobre as primeiras páginas; recolhem os destaques, as notícias comuns e tentam apanhar mais algumas que saltem à vista. Depois pousam o helicóptero e fazem a revista de imprensa!”, dizia AJB aos seus alunos.


Ensinou-me também a pontualidade na rádio. Não deixava entrar nenhum aluno no estúdio depois da hora certa! E marcava falta! Era obrigatório ouvirmos o noticiário, debatermos e depois, partindo dos jornais ou da matéria noticiosa registada, fazermos o nosso próprio noticiário, procurando um discurso natural, coerente, redondo [circular], coloquial e pausado, de forma a dar ênfase a determinado facto ou matéria, quando se justificasse, mas sempre dirigido ao ouvinte, a um ouvinte. Muitas vezes, enquanto preparávamos as notícias, telefonava para Lisboa, para a redacção da TSF, para “desancar” ou elogiar o jornalista que ouvíramos antes. Percebia-se que muitos deles não atendiam as chamadas, o que deixava furioso.


Foi um bom professor. Chumbou-me por faltas! Gostava muito do meu trabalho, nunca ralhou comigo, mas como eu tinha a tendência para chegar uns segundos depois da hora, fechava-me a porta na cara! E mesmo prometendo-me uma boa nota, o que cumpriu, obrigou-me a nova matrícula para completar os créditos em falta. Ensinou-me a importância da pontualidade do jornalista (que muito espanto causa hoje nas fontes, tão habituados aos atrasos e à arrogância dos jornalistas), na busca pelo momento que faz a diferença. O jornalista que chega atrasado só vê o filme pela metade.


Lembro-me bem do AJB, apesar de não o ver (e ouvir) há muitos anos e da nossa diferença de idades. Lembro-me da sua sagacidade, do 2CV vermelho que usava para atravessar o Marão (dava formação em Vila Real), dos cigarros com ponteira, da boémia ao piano na Ribeira (que quase não frequentei), da conversa inteligente e dos seus ralhetes. Foi um bom professor. Era irmão do JMB [José Mário Branco].


[Algumas peças de António Jorge Branco podem ser ouvidas AQUI, na TSF, pessoalmente não acho que sejam os seus melhores trabalhos; como disse Fernando Alves, AJB foi sobretudo um formador, um formador de gerações. A imagem de AJB foi retirada do netlog do jornalista.]


Testemunhos de Adelino Gomes e João Paulo Guerra, a partir do minuto 8.

Mais informação sobre AJB pode ser encontrada aqui, no sítio do Sindicato de Jornalistas.

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