quarta-feira, 11 de novembro de 2009

XXIX encontro da Associação Portuguesa de História Económica e Social 2009

Sexta e sábado, dias 13 e 14 de Novembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Veja aqui o cartaz e sítio da associação(pdf), e aqui o programa completo.

Actualização de mega postal Marques da Silva: "Adolescer num liceu do Porto", por Luís Grosso Correia, comunicação no dia 13 de Novembro na FLUP/APHES2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Busto escondido com rabo de fora


-->Este texto foi publicado em Janeiro de 2005 no jornal «O Primeiro de Janeiro», num suplemento concelhio chamado «Concelho Maia» e no corpo principal do periódico na semana seguinte. Não consigo identificar a data precisa da publicação. Muita coisa mudou entretanto. O edifício da cooperativa, que ainda pertence à Câmara da Maia, foi emparedado, já que corria risco de incêndio, era local de abrigo de toxicodependentes.  A autarquia ofereceu o edifício ao Estado, para um posto da PSP; a adaptação do edifício chegou a estar em PIDDAC, mas nunca foi concretizada. O vereador da Cultura da Maia, Mário Nuno Neves, permanece no cargo, foi reeleito em Outubro deste ano nas listas do PSD, como independente. Deixou o CDS/PP pouco depois da publicação deste artigo. Maia Marques, também professor universitário, e Armando Tavares permanecem funcionários da autarquia. O livro citado no texto pode ser consultado na Biblioteca Municipal da Maia. O busto mantém-se em cima do cofre. A foto principal é do José Freitas, as outras  duas foram captadas por telemóvel. O texto é o original e pode conter algumas gralhas.

Imagem de Karl Marx encimava o edifício da extinta Cooperativa Popular de Moreira da Maia



 

O mistério do busto enterrado



Paulo Almeida
Parece um troféu. Um busto de Karl Marx esculpido num bloco de granito de cerca de um metro de altura. Está pousado em cima do cofre no gabinete do único vereador do PP no executivo da Câmara da Maia. “Está a guardar o capital”, graceja Mário Nuno Neves, que colou uma pequena fotocópia do fac simile da primeira edição de “O Capital” na porta do cofre.

O busto é uma peça esculpida de propósito para ser vista de baixo para cima, já que encimava a porta do edifício da Cooperativa Popular de Moreira da Maia, construída no tempo recorde de um ano. A primeira pedra foi lançada no dia 1 de Maio de 1925 e o prédio, com um traço moderno, ficou concluído 12 meses depois. Não se conhecem fotografias da fachada da cooperativa com o busto, mas admite-se que existam. Também não se sabe quanto tempo o busto de Karl Marx permaneceu no frontispício da cooperativa que nasceu como Casa do Povo de Moreira da Maia. Vinte e oito dias depois da sua inauguração deu-se o golpe de Estado militar, liderado por Mendes Cabeçadas, que instaurou a censura prévia e abriu caminho à ditadura de António Salazar, alguns anos depois.

up to a new level

A partir desta data o blog Meios de Produção passa a editar textos do jornalista português Paulo Almeida, material de arquivo, já publicado, e textos novos, todos eles devidamente identificados como material jornalístico. Os textos e algumas fotos podem ser usados por outros meios, embora devam referir a origem, uma vez que estão protegidos por direitos de autor.
Todos os marcadores do Meios de Produção serão reformulados no futuro.

domingo, 8 de novembro de 2009

mega postal arquitecto Marques da Silva

A Ordem dos Arquitectos, secção Regional do Norte, promoveu ontem, integrada no ciclo Obra Aberta Marques da Silva, uma visita ao antigo Liceu D. Manuel II/Rodrigues de Freitas (actualmente Escola Secundária Rodrigues de Freitas, sede de agrupamento, e Conservatório de Música do Porto).

O antigo liceu foi o mais importante do norte do país e continua a ser o maior de Portugal, actualmente com uma área construída de cerca de 20 mil metros quadrados, de acordo com Manuel Fernandes de Sá. (Quem foi Rodrigues de Freitas)
(aspecto do pátio traseiro do edifício original, já com as alterações dos anos 1950)

A entrada principal da escola confronta-se com o antigo Liceu Carolina Michaëlis. Não parece ser por acaso: cá em baixo ficava a escola dos rapazes, lá em cima a das raparigas. O “Carolina” só passou a escola mista em 1979. (Sobre as escolas femininas do Porto e o ensino em Portugal, entre os séculos XIX e XX, ver Luis Grosso Correia.) (actualização, 12 Nov. 2009: "Adolescer num liceu masculino (1950-1973): estudo de caso", Luís Grosso Correia, Comunicação APHES2009).


(esq. projecto eureka, de marques da silva, não construído; dir. plano actual) 

A visita foi guiada pelos arquitectos Gonçalo Canto Moniz e Manuel Fernandes de Sá, este último autor do projecto de reestruturação e reconversão do antigo liceu e também do projecto em curso na escola Carolina Michaëlis.

 
(Manuel Fernandes de Sá, esq.; Gonçalo Canto Moniz, dir.)
Ambos deram conta de soluções inovadoras utilizadas por Marques da Silva, prosseguidas hoje na construção de escolas. Em concreto, a iluminação natural, que na solução de Marques da Silva surge em corredores de acesso às salas de aulas, com ligação a pátios interiores. Aspecto a merecer referência são os pilares de suporte do telhado da antiga piscina e do pavilhão de ginástica, inovadores para a época.
(os corredores, as condutas no tecto) 
A escola sofreu diversas intervenções ao longo dos anos; na década de 1950 foi ampliada, ganhando mais um piso. De qualquer forma, a maior intervenção desde a sua construção data de 2007-2009, tendo o espaço lectivo sofrido uma total modernização, adequando as salas de aula às novas tecnologias (todas as salas estão equipadas com data show), dotadas de isolamento térmico e acústico. Uma das soluções encontradas por Fernandes de Sá foi a colocação à vista de todas as condutas de ar forçado, electricidade, gás, etc., o que lhe confere actualmente um curioso ambiente fabril (“Fábrica de Ensino”, diriam alguns).
 
(antiga piscina e tecto; o fosso da piscina permanece sob o soalho)
A instalação do Conservatório de Música do Porto, na ala poente do edifício, veio conceder outras funcionalidades ao conjunto, alargando também os modelos de ensino. Foi criada uma escola do 1.º ciclo no espaço exterior/sul, para crianças com aptidões musicais, bem como uma sala de espectáculos/ensaio, com capacidade para eventos públicos, e biblioteca musical. A ala nascente/sul, afecta à escola secundária, ganhou um pavilhão desportivo coberto, com bancada. Entre estes dois pólos exteriores fica um campo desportivo ao ar livre.
(pavilhão desportivo e sala de ensaio do Conservatório, novos pólos construídos)
O liceu Rodrigues de Freitas sempre foi um ex-libris da cidade, confirmado pelos antigos alunos. Um velho amigo, A., que por lá passou entre as décadas de 1970-80, mostrou-me várias vezes com orgulho a marca deixada por uma bala disparada pela polícia de choque, num dos gradeamentos do liceu. Após o 25 de Abril de 1974, as autoridades foram chamadas várias vezes para travar as batalhas campais entre estudantes, por motivos políticos. Não usavam balas de borracha. Não me lembrei de verificar se a marca ainda lá estava, mas creio que não, o gradeamento parece ter sido intervencionado.
(fachada interior/traseira do edifício, conjunto construído na década de 1950)
Marques da Silva (1869-1947) é um dos mais importantes arquitectos portugueses de todos os tempos, com obra visível na cidade do Porto, na viragem do século XIX, mas com relevância primordial nas primeiras décadas do século XX. Uma série de prédios da Avenida dos Aliados, tal como o Teatro Nacional de São João (1909) e a estação de S. Bento (1896-1916), são da sua autoria. Mas também o monumento aos Heróis das Guerras Peninsulares (1909), na Rotunda da Boavista (em co-autoria), o bairro O Comércio do Porto (1899), os Grandes Armazéns Nascimento/Galerias Paladium (1914), onde actualmente está a Fnac, ou os jardins e Casa de Serralves (1932/1925-1943) (em co-autoria).  
A próxima etapa da Obra Aberta Marques da Silva é a 21 de Novembro e é um acontecimento. Visita-se a casa-atelier do autor, na Praça do Marquês de Pombal, “que está praticamente como ele a deixou”. Prevê-se para breve uma intervenção no imóvel.
 
 (fotografia de Marques da Silva retirada de up.pt)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Claude Levi-Strauss (1908-2009)












(imagem retirada de fabiaolima.wordpress.com)


[ouvindo o estrangeiro, caetano veloso, in o estrangeiro, 1989]

domingo, 1 de novembro de 2009

António Sérgio (1959-2009)


Os meus primeiros contactos com as rádios FM foi a ouvir a Rádio Comercial e o programa de Luís Filipe Barros, "Rock em Stock". Mas algum tempo depois descobri o "Som da Frente", do António Sérgio. Imbatível! Era o melhor que havia. Mostrou-me músicas e bandas que me acompanharam sempre. Depois veio a X-FM, esse incrível projecto radiofónico para uma imensa minoria, que terminou face às mãos do capitalismo selvagem, incapaz de promover um espaço de cultura musical moderna num pequeno país como Portugal. A X-FM tinha milhares de seguidores no Porto e em Lisboa, mas isso não era suficiente para os patrões dos media. Tinha que fechar ou adoptar o modelo das play-list, da rádio formatada. Claro, fechou, deixou muitas saudades e um mito. António Sérgio fazia os programas da manhã, o espaço nobre da rádio. Depois veio a "Hora do Lobo", novamente na Comercial, com um António Sérgio mais critico, interventivo. O programa foi extinto. Luiz Montez deu-lhe uma mão e levou-o para a Radar FM e já só era possível ouvi-lo em Lisboa. António Sérgio morreu hoje, aos 59, vitima de um súbito ataque de coração. Foi o principal divulgador de música pop-rock não-comercial. Foi uma presença constante em várias gerações de jovens e adolescentes. Também da minha geração.