domingo, 8 de novembro de 2009

mega postal arquitecto Marques da Silva

A Ordem dos Arquitectos, secção Regional do Norte, promoveu ontem, integrada no ciclo Obra Aberta Marques da Silva, uma visita ao antigo Liceu D. Manuel II/Rodrigues de Freitas (actualmente Escola Secundária Rodrigues de Freitas, sede de agrupamento, e Conservatório de Música do Porto).

O antigo liceu foi o mais importante do norte do país e continua a ser o maior de Portugal, actualmente com uma área construída de cerca de 20 mil metros quadrados, de acordo com Manuel Fernandes de Sá. (Quem foi Rodrigues de Freitas)
(aspecto do pátio traseiro do edifício original, já com as alterações dos anos 1950)

A entrada principal da escola confronta-se com o antigo Liceu Carolina Michaëlis. Não parece ser por acaso: cá em baixo ficava a escola dos rapazes, lá em cima a das raparigas. O “Carolina” só passou a escola mista em 1979. (Sobre as escolas femininas do Porto e o ensino em Portugal, entre os séculos XIX e XX, ver Luis Grosso Correia.) (actualização, 12 Nov. 2009: "Adolescer num liceu masculino (1950-1973): estudo de caso", Luís Grosso Correia, Comunicação APHES2009).


(esq. projecto eureka, de marques da silva, não construído; dir. plano actual) 

A visita foi guiada pelos arquitectos Gonçalo Canto Moniz e Manuel Fernandes de Sá, este último autor do projecto de reestruturação e reconversão do antigo liceu e também do projecto em curso na escola Carolina Michaëlis.

 
(Manuel Fernandes de Sá, esq.; Gonçalo Canto Moniz, dir.)
Ambos deram conta de soluções inovadoras utilizadas por Marques da Silva, prosseguidas hoje na construção de escolas. Em concreto, a iluminação natural, que na solução de Marques da Silva surge em corredores de acesso às salas de aulas, com ligação a pátios interiores. Aspecto a merecer referência são os pilares de suporte do telhado da antiga piscina e do pavilhão de ginástica, inovadores para a época.
(os corredores, as condutas no tecto) 
A escola sofreu diversas intervenções ao longo dos anos; na década de 1950 foi ampliada, ganhando mais um piso. De qualquer forma, a maior intervenção desde a sua construção data de 2007-2009, tendo o espaço lectivo sofrido uma total modernização, adequando as salas de aula às novas tecnologias (todas as salas estão equipadas com data show), dotadas de isolamento térmico e acústico. Uma das soluções encontradas por Fernandes de Sá foi a colocação à vista de todas as condutas de ar forçado, electricidade, gás, etc., o que lhe confere actualmente um curioso ambiente fabril (“Fábrica de Ensino”, diriam alguns).
 
(antiga piscina e tecto; o fosso da piscina permanece sob o soalho)
A instalação do Conservatório de Música do Porto, na ala poente do edifício, veio conceder outras funcionalidades ao conjunto, alargando também os modelos de ensino. Foi criada uma escola do 1.º ciclo no espaço exterior/sul, para crianças com aptidões musicais, bem como uma sala de espectáculos/ensaio, com capacidade para eventos públicos, e biblioteca musical. A ala nascente/sul, afecta à escola secundária, ganhou um pavilhão desportivo coberto, com bancada. Entre estes dois pólos exteriores fica um campo desportivo ao ar livre.
(pavilhão desportivo e sala de ensaio do Conservatório, novos pólos construídos)
O liceu Rodrigues de Freitas sempre foi um ex-libris da cidade, confirmado pelos antigos alunos. Um velho amigo, A., que por lá passou entre as décadas de 1970-80, mostrou-me várias vezes com orgulho a marca deixada por uma bala disparada pela polícia de choque, num dos gradeamentos do liceu. Após o 25 de Abril de 1974, as autoridades foram chamadas várias vezes para travar as batalhas campais entre estudantes, por motivos políticos. Não usavam balas de borracha. Não me lembrei de verificar se a marca ainda lá estava, mas creio que não, o gradeamento parece ter sido intervencionado.
(fachada interior/traseira do edifício, conjunto construído na década de 1950)
Marques da Silva (1869-1947) é um dos mais importantes arquitectos portugueses de todos os tempos, com obra visível na cidade do Porto, na viragem do século XIX, mas com relevância primordial nas primeiras décadas do século XX. Uma série de prédios da Avenida dos Aliados, tal como o Teatro Nacional de São João (1909) e a estação de S. Bento (1896-1916), são da sua autoria. Mas também o monumento aos Heróis das Guerras Peninsulares (1909), na Rotunda da Boavista (em co-autoria), o bairro O Comércio do Porto (1899), os Grandes Armazéns Nascimento/Galerias Paladium (1914), onde actualmente está a Fnac, ou os jardins e Casa de Serralves (1932/1925-1943) (em co-autoria).  
A próxima etapa da Obra Aberta Marques da Silva é a 21 de Novembro e é um acontecimento. Visita-se a casa-atelier do autor, na Praça do Marquês de Pombal, “que está praticamente como ele a deixou”. Prevê-se para breve uma intervenção no imóvel.
 
 (fotografia de Marques da Silva retirada de up.pt)

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