quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Pia fininho, senão levas no focinho!

O meu BI (bilhete de identidade) caducou a 12 de Outubro. Lá fui eu, hoje, à Direcção Geral dos Registos e Notariado renovar o dito. Mas saí de lá, já não com o BI, mas com o Cartão do Cidadão! Calma! Não foi automático. Esperei cerca de uma hora [felizmente ou infelizmente levava um livro do Mauro Wolf sobre teorias da comunicação, de 1997 (edição original em italiano de 1985), o que até foi uma boa ideia: percebem-se melhor as teorias da comunicação quando temos mesmo que esperar!] – o sistema informático dos serviços crashou várias vezes enquanto esperava e até mesmo quando era atendido – até chegar a minha vez. Tinha 27 pessoas à frente [o meu número era o D431], mas desistiram tantas que até senti ter sido atendido rapidamente. Enfim, as benesses da leitura...

Apresentei o BI caducado, o cartão com o número de contribuinte, mas não tinha cartão da Segurança Social, que era exigido. Em compensação, tinha o cartão de eleitor, que não era exigido.
– "Não há problema", disse-me a senhora. A partir dos dados do BI caducado, ela conseguiu obter todos os dados necessários através do computador. Ao lado, a outra funcionária exclamava chateada:
– Está tudo a funcionar!? Crashou outra vez. De quem é este impresso? Alguém o deixou aqui em cima."
Explicou a minha funcionária, a D. Célia:
– "O sistema tem falhado todas a tardes. Há pouco tinha um processo quase todo inserido e o sistema crashou; tive que inserir tudo outra vez. É por isso que é tudo muito demorado."

Então lá fui eu tirar as impressões digitais dos dois indicadores, fazer a assinatura electrónica, medir a altura (não quiseram saber o meu peso, apesar de ter quilos a mais) e tirar as fotografias. Bem, aqui foi uma guerra, foram precisas meia dúzia, e mesmo assim... Não se conseguia disfarçar aquele ar de presidiário! Perguntava eu:
– "Mas por que é que não posso ficar com óculos?!" [Atenção fãs, eu uso óculos!]
– "Os serviços alegam que o reflexo não deixa ver os olhos."
– "Mas eu não ando sem óculos e sem óculos não vejo."
– "Mas tem que ser assim."
Tudo bem, tudo bem, só espero que esse ar de presidiário não seja premonitório.

Então lá fui perguntando:
– "Mas tenho acesso aos meus dados?"
Tem sim senhor, respondeu a D. Célia, explicando que vou ter a possibilidade de comprar um pequeno terminal de leitura, por 16 euros, para ligar ao computador pessoal e alterar os dados sempre que mudar de residência, ou casar, ou divorciar, ou mudar o número de telemóvel, ou o e-mail. [Sim, sim, é necessário fornecer o número de telemóvel e o e-mail!] E aquele pequeno terminal vai possibilitar – no futuro – o voto electrónico sem sair de casa [pois, e eu tenho a certeza que votei?].

Perguntei:
– "Então e a policia, quando me pedir o Cartão de Cidadão, também vai ter acesso a estes dados todos?"
– "Para já a policia não está equipada com estes terminais. De qualquer forma, também não há cruzamento de dados.", responde a D. Célia.
"Hã!?", pensei eu, "Aqui já não tenho mais nada a fazer, o melhor é arrumar as coisas e ir embora". Fiquei espantado com a bondade da senhora funcionária pública. Ela, que está sujeita ao Big Brother do Estado [vejam bem: tentei linkar aqui o SIADAP – www.siadap.gov.pt – e o meu Firefox avisa-me que não é uma ligação segura e fiável: (Código de erro: sec_error_unknown_issuer)], acredita que não haja cruzamento de dados, quando ela própria me disse que se eu for um cidadão contumaz, ou com dívidas à Segurança Social, ou com dívidas às Finanças, o sistema informática da Direcção Geral de Registos e Notariado não me deixa tirar o Cartão do Cidadão!...

Eu gostava mais do tempo do antigamente [calma, nada de reaccionarismos ou revisionismos], quando os cidadãos eram considerados bons e tinha que ser o Estado a fazer prova que os cidadãos era maus. Agora é ao contrário, os cidadão são maus e têm que ser eles a provar que são bons: têm que ter um cadastro imaculado: nada de manifestações, nada de sindicalizações, sem multas, sem reclamações, sem opinião. Vamos bem assim, pelo menos não tive que urinar para um copo! Enquanto houver electricidade...

Está caladinho, senão levas no focinho! Enquanto isso espero pelos códigos em casa, para depois ir levantar e activar o Cartão do Cidadão. Adeus BI, olá CC.



[ouvindo helter skelter, the beatles, the beatles (white album), 1968]

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Liberdade, Liberdade, volta! Estás a deixar saudade!

Ma que pasa com questa web qui quero libre? Mas o que é que se passa com esta net que está a transformar os espaços de liberdade em espaços privados e fechados? Em ilhas de acesso restrito, do tipo “menina não entra”?



Dir-me-ão: “a tua liberdade acaba quando começa a dos outros” e que mesmo assim, a coberto do anonimato, posso sempre dizer uns impropérios que não vem ninguém chatear. Pois! Mas a questão é diferente: a minha liberdade acaba quando as grandes empresas, as multinacionais multimarcas, as corporações e as instituições assim o entenderem! Porque são elas que fazem as regras económicas por onde nos movemos e que nos dizem por onde podemos e devemos caminhar.



Compro um disco, mas só o posso ouvir em casa! Não posso fazer uma cópia para ouvir no carro ou no ipod (entenda-se ipod como dispositivo de uso pessoal sem marca definida), porque é proibido! Nem sequer posso trocar músicas com o meu amigo, nem sequer posso emprestar o disco.



Se estiver em casa a ouvir música alto, estou a cometer um crime, não porque alguém se tenha queixado do ruído, mas porque as pessoas que passam na rua podem ouvir a música e isso é proibido!



Lamento que espaços de liberdade pessoal tenham desaparecido da blogosfera. Alguns por cansaço, por iniciativa pessoal, outros por perseguição. Mas se calhar estou a ficar antiquado, pois o ciclo de vida na blogosfera é muito curto.



[eu gostava da erudição o Mr. Infinite Fool (agora só com acesso reservado), mas quando ele iniciou uma campanha irónica, apelando ao voto em si próprio para presidente do Estados Unidos da América, caíram-lhe todos em cima e ele teve que fechar a casa. Passou à clandestinidade. Ainda antes o Orgy in Rhythm manifestou-se cansado e fechou o tasco. Voltou agora, óptimo! Deixou uma legião de fãs e seguidores, que lhe pediam postais emprestados, como o Ile Oxuma. Agora foi o Reza que desapareceu sem deixar rasto. Eu não acompanhei os últimos momentos de vida, mas cheira-me a perseguição, conforme o manifesto que lá deixou. Muitos outros desapareceram; só espero que muitos mais apareçam: ... ... ...]



[Entretanto apareceu um projecto interessante baseado nisto: http://en.wikipedia.org/wiki/1001_Albums_You_Must_Hear_Before_You_Die: A possibilidade de ouvir os 1001 albuns! (em http://www.radio3net.ro/1001/) Também vale a pena dar uma vista de olhos em http://1001albums.blogspot.com/ e http://1001albuns.blogspot.com/]

Fontes: http://www.bocalivre.org/index.php?id=1&msg_cod=159