quinta-feira, 11 de junho de 2009

"Serviços excepcionais e relevantes prestados ao País"

Os termos são estes: “Serviços excepcionais e relevantes prestados ao País”.

[Lembre-se bem deles, senhor Presidente!]

A história resume-se assim: Em 1988, o capitão Salgueiro Maia pediu ao governo presidido por Cavaco Silva uma pensão por “Serviços excepcionais e relevantes prestados ao País”, pela sua participação no golpe de Estado que levou à instauração do regime democrático em Portugal. O pedido recebeu parecer positivo por parte do conselho consultivo da Procuradoria Geral da República, depois do Supremo Tribunal Militar ter declarado que não era competente para analisar o caso. O pedido foi enviado para o governo e nada. Silêncio. Nunca deu resposta.

Na altura, Salgueiro Maia estava a passar dificuldades por lhe ter sido diagnosticado um cancro. Só em 1992 é que se soube por que é que o governo de Cavaco Silva não concedeu a pensão: porque tinha concedido a pensão por “Serviços excepcionais e relevantes prestados ao País” a dois inspectores da PIDE (a polícia política do Estado fascista português, que torturava e assassinava portugueses). Porque é paga pelos contribuintes, é justo lembrar os nomes dos fascistas inspectores da PIDE que ficaram com a pensão por “Serviços excepcionais e relevantes prestados ao País”: António Bernardo e Óscar Cardoso. Um deles (não sei qual) disparou sobre a multidão que se juntou na Rua António Maria Cardoso (sede da PIDE, em Lisboa), no dia 25 de Abril de 1974. Na altura dos disparos, Salgueiro Maia estava no Largo do Carmo a evitar que se dessem tiros sobre a multidão ou sobre o que restava do Governo fascista. Salgueiro Maia morreu nesse mesmo ano de 1992, a 4 de Junho.

Cavaco Silva, o homem que gostava de fascistas e de lhes dar pensões por “Serviços excepcionais e relevantes prestados ao País” agora é Presidente da República Portuguesa. E ontem, no feriado consagrado ao Dia de Portugal (uma invenção do Estado fascista), foi depositar uma coroa de flores junto à estátua de Salgueiro Maia, em Santarém, cidade de onde era natural o homem que conduziu no terreno uma revolução sem disparar tiros sobre pessoas.

Cavaco Silva merece uma grande vaia!

[Salgueiro Maia não merece qualquer referência nos dois volumes da Autobiografia política de Cavaco. Reli alguns parágrafos sobre a sua relação com Mário Soares e com a comunicação social e a RTP, que ele sempre recusou alguma vez ter “governamentalizado”. Comparando com a “governamentalização” hoje da RTP, acredito em Cavaco. E também acredito no “terrorismo institucional” que lhe fazia Mário Soares, conforme descreve. Mas a ingenuidade não impede de lhe mandar uma valente vaia. E ainda assim, Cavaco teve a humildade de enfrentar este pequeno episódio histórico.]

Foto do Presidente da República retirada do site da Presidência da República (não assinada); Foto de Salgueiro Maia retirada do blogue Fórum do Viriato, sem créditos, mas certamente retirada de outro lado qualquer.


[ouvindo a formiga no carreiro, josé afonso, venham mais cinco, 1973]

Sem comentários: