Nunca o conheci pessoalmente mas habituei-me a ler os seus trabalhos de história económica, que valeram muito para os meus próprios textos científicos. Ainda hoje o tenho como referência e, certamente, continuarei a ter. Lembro que Pierre Bourdieu (O poder simbólico, 2011, 57-72) escreveu que o conjunto de referências que devemos evidenciar no nosso discurso científico não será necessariamente o mais recente. Devemos citar aqueles que realmente influenciam as nossas reflexões, porque são esses que nos enquadram enquanto cientistas (sociais) e enquanto autores de um pensamento estruturado. A busca constante pela novidade, que tem sido imposta pela intelligentsia científica, leva a becos sem saída, a uma dispersão inútil de conhecimento e a uma desestruturação do conhecimento e da investigação. Por isso mesmo, Pedro Lains tem sido uma referência na histórica económica portuguesa.
O contacto mais próximo com o autor foi através do twitter e da sua página pessoal (https://pedrolains.typepad.com/pedrolains/2020/12/index.html). Nunca escondeu estar doente, pelo contrário, até mostrava o seu esforço para reagir à doença, que nunca chegou a nomear. (Re)leu em novembro passado Identificação de um país - Ensaio sobre a fundação de Portugal 1096-1325 (José Mattoso, 1985) e revelou as suas reflexões sobre Portugal e os Portugueses. Depois disso foi tirando notas para um novo livro (A construção de um País - título provisório, em homenagem a Mattoso), sobre as revoluções em Portugal desde 1820. A última entrada na sua página pessoal foi em dezembro de 2020.
Historiador e professor universitário, foi dos poucos que se levantaram contra a troika (FMI-CE-BCE, 2011-2014), contra a narrativa da inevitabilidade e contra os jornalistas e "fazedores de opinião" que deram sempre cobertura ao governo de direita e ao discurso da Alemanha de Merkel e Schauble. Deixo aqui a minha homenagem.