sábado, 22 de fevereiro de 2020

Vasco Pulido Valente (1941-2020)


retirado de jn (entrevista com data de 2018)/autor reinaldo rodrigues/global imagens

Vasco Pulido Valente, o truculento Vasco Pulido Valente! O Velho do Restelo com um lúcido olhar sobre o futuro. E sobre o passado.

O quer mais impressionou em VPV foram as crónicas e ensaios que foi publicando na imprensa portuguesa nos últimos 20/25 anos, provocando uma atenção inadiável. Embora por aqui não se concorde com tudo o que escreveu, o que se aprecia é a qualidade de escrita e argúcia do argumento. Na verdade, VPV era um polemista. Mas de uma qualidade como já não há ninguém. Sobre a sua faceta de historiador, da qual tenho a certeza que quereria ser lembrado, deve afirmar-se que por aqui é apreciado, até muito apreciado. Contudo, muitas das análises mais recentes sobre a República (1910-1926) devem ser lidas com alguma cautela, de tal forma se embrenhou na intriga política da época, parecendo tomar partido. 

Lisboa: Gótica. 2001.

Li Glória (2001), biografia de José Cardoso Vieira de Castro (1837-1872), um livro notável, com uma qualidade de escrita inatacável, sendo uma obra científica. O que me fez lê-lo foi uma crítica, não sei onde, que afirmava que Glória se lia como se fosse um romance, porque foi escrito como se fosse um romance. É verdade, ainda que tenha muitas passagens que são meras conjeturas psicológicas e outras em que não resiste a mergulhar no clima político da época, uma opção correta, mas que torna a obra por vezes inexpugnável para quem não domina a história política portuguesa de oitocentos. Li uma vez numa entrevista, cito de memória, que se fosse hoje (meados do século XXI) não escreveria Glória da mesma forma. Glória foi uma obra fundamental por aqui, quando se começou a escrever história e até algumas biografias. A qualidade de escrita, de estilo, é invejável. Desde então, e já muito antes, desde O Independente e da Kapa, que se lêem-se os seus ensaios, crónicas e entrevistas e, sempre que possível, compram-se os seus livros. Mas não é Vasco Pulido Valente quem quer!

A propósito de Glória ver a interessante recensão de Rui de Azevedo Teixeira: https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/321