É uma questão de bom senso...
Se formos pessoas de
bem…
Se formos pessoas de
pensamento racional…
Se pensarmos um
bocadinho sobre as coisas…
Alguém pode ficar
sério quando houve até à exaustão (nas televisões e nas rádios,
e depois nos jornais e depois por todos os cantos da internet) coisas
como esta? “Bruxelas pressiona governo a cortar proteção dos contratos sem termo” (via Dinheiro Vivo).
Conforme diz a notícia, a Comissão Europeia entende que em Portugal
(e também em Espanha) há uma excessiva proteção aos trabalhadores
que têm contrato sem termo nas empresas, portanto, aqueles que são
considerados efectivos (logo, “menos precários” do que aqueles
que têm contrato a prazo). Diz ainda que o maior problema é que “os
custos do despedimento individual de trabalhadores permanentes sem
justa causa são incertos para os empregadores”.
Sim, leu bem! É
esta a proposta ideológica da Comissão Europeia. Pobres dos
empregadores, leia-se EMPRESAS/EMPRESÁRIOS, que por causa da rigidez
do mercado de trabalho em Portugal e Espanha não podem despedir
depressa e bem, porque se os tribunais considerarem que o
despedimento foi ilegal esses trabalhadores têm que ser
reintegrados.
Esta posição da
Comissão Europeia parece inacreditável (na verdade, andam a
defender a precarização e desregulamentação do mercado de
trabalho na Europa há mais de uma década), além de ser imoral,
injusta, contraproducente, geradora de desigualdades e criadora de um
lastro social de descontentamento, populismos, extremismos,
conducente à destruição da democracia e da liberdade.
A posição da
Comissão Europeia surge recheada de cinismo, ou não soubessem os
“bruxelenses” que nas últimas semanas foram despedidos mais de 600 trabalhadores (a maioria mulheres, portanto, tradicionalmente com os
mais baixos salários) de um grupo têxtil de Famalicão.
Ainda hoje a
Comunicação Social internacional refere que o crash da Bolsa de
Nova Iorque (cujos índices estavam anormalmente altos desde que
Trump assumiu a Presidência dos Estados Unidos, há cerca de um ano)
deve-se à previsão do aumento dos salários dos trabalhadores, que
deverá fazer aumentar as taxas de juros! Bem, é o que diz o Público: a notícia é esta mas só o último parágrafo é que dá esta explicação e cita a
agência Reuters (Pode ver a explicação aqui).
Este ataque ao mundo
laboral, à organização das sociedades democráticas contemporâneas
com o sector social como pilar da organização familiar, não é
novo na história, nem nos nossos tempos. Eu continuo a defender a
globalização e não vou explicar porquê aqui, mas em vez de os
países andarem a discutir o livre comércio mundial, devem –
obrigatoriamente – discutir a organização laboral em conjunto com
o comércio livre. E se não o quiserem fazer, pretendendo apenas
discutir o lucro das empresas geradas por esse comércio
livre, então deve abrir-se uma nova mesa de negociações que
imponha os direitos laborais a todos os
países em negociações.
É uma questão de
sobrevivência da espécie, que é cada vez mais urgente. Se
continuarmos a cavar um fosso entre os muito ricos e os outros, o
resultado inevitável será um de dois: guerra ou escravatura. Não
queremos nem um nem outro, pois não?
Imagens: Símbolo gráfico retirado da OIT; imagem das trabalhadoras da Rincon, não assinada, retirada da Rádio Renascença online; imagem da Bolsa da Nova Iorque retirada da Reuters online, assinada por Brendan Mcdermid.
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