Duas ou três coisas sobre a EDP e sobre Manoel de Oliveira. Sobre a EDP quem passa pelo Meios de Produção sabe o que se pensa sobre monopólios e abuso de posição dominante. Nada se disse sobre a recente privatização que o actual governo fez do capital que o Estado detinha na EDP, mas também não era preciso dizer muito: um crime de lesa-pátria; uma posição ruinosa para os portugueses, para as empresas e para os futuros governos; quando é que baixa o preço da electricidade? Sobre Manoel de Oliveira também já se disse alguma coisa e ainda podia dizer-se muito mais. Mas, quando se juntam EDP e Manoel de Oliveira, o que dizer? Sobre Manoel de Oliveira pode dizer-se que Meios de Produção é um fã incondicional, ainda que não seja obrigatório gostar de todos os filmes. O que se nota em Manoel de Oliveira é que ele sabe onde colocar a câmara e o que filmar, com um sentido estético apuradíssimo, sem que isso seja um dogma. E é sempre um prazer apreciar esse sentido a cada novo filme, ainda que não se goste dele. E neste filme da EDP, o último do autor (?), um spot publicitário (?), isso também é notado. Há que dizer que a preferência do Meios de Produção vai para os filmes antigos de Manoel de Oliveira, onde ele era mais experimentalista, mais arrojado, sem medo e com mais energia para inovar. O filme realizado para a EDP socorre-se das imagens de um filme que realizara em 1932, sobre a barragem do Ermal, onde o seu pai trabalhara. E lá estão as imagens com mais de 80 anos a provar que o autor sabia muito bem o que fazia, ainda que parecesse apenas um curioso jovem. Já sobre a temática dos irmãos, mais lírica, mais pessoal, vale pela performance e pelo cuidado coreográfico e musical que é sempre surpreendente para um homem com mais de um século de vida. Finalmente a EDP! Pois a EDP, empresa monopolista que o actual Governo vendeu a uma empresa pública chinesa, por uma verba que já se esfumou, condenando os portugueses a contribuir para os lucros astronómicos de accionistas desconhecidos que se apresentam em nome do povo da maior economia do mundo, não fez mais do que estava ao seu alcance, que foi atirar umas migalhas para a construção de uma imagem de prestígio institucional, que até lhe dará impacto internacional. É barato e garante uma imagem duradoura e até mecenática. Talvez não saibam que a privatização da empresa monopolista EDP (qual mercado aberto?, sim qual mercado aberto?) concedeu aos novos donos total jurisdição sobre a quase totalidade das barragens portuguesas e, por consequência, dos rios portugueses. Será Manoel de Oliveira um vendido? Não sei. Apreciem o filme que ele fez para a EDP, enquanto isso é possível, e avaliem pela vossa cabeça.