O Portugal do “fado, futebol e Fátima” terminou hoje com a
morte do Eusébio!
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Nada mais enganador por razões que não vou explicar agora,
mas basta vivermos estes anos de chumbo impostos pela troika
(Barroso-Lagarde-Merkel/Coelho-Portas-Cavaco), que se caracterizam pela
desregulamentação das leis do Trabalho, pela transferência massiva dos recursos
do Trabalho para o Capital, pela imposição da perda de soberania económica
nacional ou pela destruição do Estado Social, em plena democracia – repito – em
plena democracia, para percebermos que o Portugal do “fado, futebol e Fátima”
não morreu hoje, está vivo e ataca forte o povo que nele se formou(a) e
viveu(e).
O que quero dizer, no fundo, é que o Portugal do “fado,
futebol e Fátima” é um Portugal simbólico, criado por uma elite fascista que
revitalizou um género musical marginal, aprisionou um jogador excepcional negro
e fomentou um culto religioso como forma de subjugar o imaginário colectivo,
mantendo sob alçada um povo inculto, atrasado e supersticioso.
A morte do Eusébio chega a estas páginas por duas razões,
uma transversal, a outra histórico-antropológica (ou sócio-política).
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Eusébio não é do meu tempo, mas sei que foi um jogador de
futebol excepcional. Não existem muitos registos audiovisuais dos seus feitos
(o futebol hoje é sobretudo o espectáculo audiovisual), nem conheço ninguém
vivo que o tenha visto em campo (na verdade, o meu avô viu-o jogar no Beira-Mar
e afirma que era uma sombra do que sabia que ele tinha sido), mas todos conhecemos
a sua extraordinária qualidade de atleta, no futebol nacional e internacional.
Porém, Eusébio é muito mais do que isso e serviu muito mais
do que o desporto de massas. Eusébio, jogador negro nascido em Moçambique,
colónia de Portugal, é um símbolo do fascismo racista do Portugal colonialista.
Perguntei hoje, em família, quantos negros conheceram a trabalhar na
Administração Pública no Portugal “salazarento”: contam-se pelos dedos de uma
mão e, na verdade, de todos os que se lembram, nenhum deles era negro, apenas mestiços!
O Portugal fascista usou Eusébio como bandeira para
justificar o colonialismo, para afirmar internacionalmente que Portugal não era racista e que os
negros estavam perfeitamente integrados na nossa sociedade. Nada mais falso,como sabemos.
Mas, mais grave que a própria morte de Eusébio, que merece
todas as homenagens enquanto atleta, é o infame Presidente da República
Portuguesa Cavaco Silva que teve o desplante de surgir hoje na televisão
pública a enaltecer a sua figura.
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O sentido de prioridade estratégica deste homem, que é oPresidente da República dos portugueses que nele votaram e que é a principalforça de bloqueio político que se impôs ao povo português, é errado, antiquadoe desadequado e moral e politicamente discutível. O inefável algarvio que
comanda a política nacional há várias décadas perdeu uma oportunidade para
estar calado, para mandar dizer sobre a justa homenagem ao atleta, mas ao
surgir em pessoa com a lágrima ao canto do olho demonstra que quer condenar
Portugal e os Portugueses à espuma dos dias e não à essência da coisas. E a
essência das coisas é aquilo que mais necessitamos nestes anos de chumbo.
Eusébio merecia o descanso necessário e não o aproveitamento
que este político medíocre, em plena democracia, vem dar continuidade.