domingo, 24 de maio de 2009

Muito lá de casa

O Meios de Produção hesitou durante algum tempo. Era a crónica de uma morte anunciada, a morte do director vitalício da Cinemateca Portuguesa. Tinha lugar, o João Benárd da Costa, na secção obituário? Houve algumas dúvidas, que acabaram por ser dissipadas hoje. E com alguma vergonha, já que as dúvidas não eram justificadas. O Benárd da Costa tem direito a uma justa (embora pequena) homenagem no Meios de Produção. Houve um tempo em que ele era muito lá de casa, mas depois deixou-se de ler as suas crónicas, de comprar os seus livros, e o distanciamento foi sendo maior.
Através dos seus textos, o Benárd foi alguém que despertou para algum cinema que quase nada se via por cá, ou para certas leituras cinematográficas que só eram descortinadas depois de o ler. Guardo na memória a fabulosa crónica de "Vale Abraão", no Público, que me levou a ver o filme mais duas ou três vezes; guardo o excelente guia sobre Alfred Hitchcock, da colecção As Folhas da Cinemateca, escrito a três mãos e publicado pela Cinemateca/Assirio e Alvim, há muito esgotado; guardo a sua imagem e irreverência nos filmes de Oliveira e César Monteiro; e guardo os momentos em que ele era muito lá de casa. Esta é a homenagem do Meios de Produção ao João Benárd da Costa, que já foi muito lá de casa, mas continua a manter o seu cantinho.
[imagem do Benárd retirada de memoriarecenteeantiga.blogspot.com, mas também referenciada como sendo da agência ecclesia; capa do livro referenciado, análise de todos os filmes de Hitchcock escrito pelo Benárd, João Lopes e José Manuel Costa. O percurso de vida do João Benárd da Costa pode ser visto aqui]

Sem comentários: