terça-feira, 15 de março de 2011

Trabalhadores fazem greve em defesa dos patrões [Actualização 16/mar/2011]


O momento actual é propício à (re)utilização desta foto insólita que tinha publicado aqui. [Acabou por ser uma repostagem, já que apaguei a matrícula do atrelado; o local da ocorrência foi uma rotunda junto ao porto de Aveiro.]

O insólito do momento actual é que os empresários dos transportes em Portugal usam os trabalhadores/camionistas para fazerem “a greve” por eles. O que estamos a assistir é uma “chantagem” dos patrões, que querem combustíveis mais baratos e isenções nas portagens das auto-estradas, para fazerem circular os produtos transportados, já que não conseguem fazer reflectir nos consumidores ou clientes os custos de circulação. Mas em vez de pressionarem directamente os responsáveis pela situação, o poder político, impeliram os “seus” trabalhadores/camionistas à greve e paralisação.

Sem o apoio dos sindicatos do sector, os empresários conseguiram uma mobilização considerável que até já cortou o abastecimento de combustível aos postos de venda; a prolongar-se, a paralisação vai levar ao corte no abastecimento de bens de consumo imediato, aumentando a crise social.

Impressiona ver pela televisão alguns trabalhadores/camionistas a “obrigarem” outros  a parar os camiões, mesmo que estes, por qualquer razão, não o quererem fazer, apedrejando veículos, ameaçando camaradas.

Compreender-se-ia se estivessem a lutar por melhores condições de vida, mas não; os trabalhadores/camionistas estão a lutar pela manutenção dos lucros do patrão. Dizem eles que estão a proteger os postos de trabalho. Pois, pois! Depois do governo ceder – porque vai ceder – vamos ver se os trabalhadores/camionistas vão ganhar alguma coisa, incluindo os seus postos de trabalho. [Actualização 16/Mar/2011: conforme esperava, o Governo acabou por ceder; ver notícia do Público.]

[Impressiona também o jornalismo português que se apressa a titular uma “greve de camionistas” para depois, lá no fundinho do texto dizer que afinal se trata de um protesto de 600 empresas do sector e respectivas associações.]

Uma explicação que se impõe sobre o nosso modelo de desenvolvimento, adoptado nos anos de 1980, quando o actual Presidente da República era o primeiro-ministro: a aposta para o país, absolutamente errada, foi empurrar a circulação de pessoas e bens através do transporte automóvel em vez de se modernizar e incrementar outros meios de transporte mais económicos, ecológicos e energeticamente mais eficientes. E agora pagamos todos por isso: Portugal é completamente dependente da flutuação do preço do petróleo, o que limita o seu desenvolvimento.

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